Contando atualmente com cerca de seis mil pessoas, o povo Kalash são detentores de um idioma indo-iraniano próprio, muito semelhante ao sânscrito e com abundantes influências gregas.
São praticantes de uma religião pagã indo-européia, suas divindades:
- Jestak é a Deusa da vida doméstica, da família e do casamento, afigurando-Se por conseguinte como equivalente à latina Juno e à grega Hera;
- Dezalik é padroeira dos nascimentos, que nos panteões clássicos é também um dos atributos de Juno/Hera, e também de Diana;
- Mahandeo é o Deus das Colheitas, mas também da Guerra, apresentando assim um paralelo interessante com o latino Marte;
- Khodai, também chamado Dezau, é o maior de todos, Deus Soberano do Céu, sendo assim não apenas funcional e hierárquica mas também etimologicamente equivalente ao latino Júpiter e ao grego Zeus: a avaliar pelo nome, Dezau é a versão kalash do grande Deus do Céu Luminoso, ou seja, do arquétipo divino mais puramente indo-europeu, raiz dos teónimos Júpiter, Zeus, Diaus, Daipatures (ilírio) e Tiwaz (germânico).
A sua tradição mítico-religiosa compreende ainda algumas Divindades menores, semi-deuses e espíritos, tal como de resto sucede noutras culturas indo-europeias, incluindo também figuras fantásticas tais como fadas de três seios e cavalos sobrenaturais.Os Kalash acreditam que são oriundos duma região a ocidente, à qual chamam Tsyam, que está ligada a Balomain, o heróico semi-deus reverenciado na festa de Chaumus.
Paralelamente, certo mito grego conta que um dia o Deus Diónisos passou por esta terra, durante a sua jornada às Índias, acompanhado pela Sua Corte de Bacantes e Silenos, e aí fundou uma povoação, que em breve se tornou conhecida entre os vizinhos e viajantes pelas suas festas e orgias. Conta-se também que pela mesma terra passaram as tropas de Alexandre Magno, daí que haja muitos gregos convencidos do seu parentesco com este povo; todavia, os estudos científicos e linguísticos indicam que a nação Kalash está etnicamente mais próxima dos Hindus e doutros povos da região do que dos Gregos, visto que a sua língua pertence ao ramo indo-irânico, mais concretamente ao grupo dárdico da família indo-europeia.
Historicamente, sabe-se que os muçulmanos sempre lhes chamaram Kafiri (infiéis), desde que as tropas de Mafoma chegaram a Tsyam na sequência da campanha islâmica de conquista territorial, iniciada no século VII. E, ao longo de mais de um milénio, estes Kafires mostraram-se indómitos, resistindo, no seu altivo bastião, às sucessivas vagas islamistas, incluindo os Turcos do sultão Mahmud, conquistador das Índias, e incluindo também a cavalaria de dez mil homens liderada por Tamerlão, famoso descendente do mongol Gengis Khan.
Todavia, alguns destes Kafires tiveram de abandonar a sua terra, Tsyam (que se localizaria eventualmente no actual Afeganistão) e moveram-se para norte, refugiando-se nos agrestes e montanhosos vales do noroeste paquistanês, o gélido e escarpado Hindu Kush, onde vivem agora.
Quanto aos Kafires que ficaram no Afeganistão, foram brutalmente massacrados em 1896 pelo islâmico Amir Kabul Adbur Rahmanm, aparentemente com o apoio tácito da coroa britânica. Este compassivo e tolerante muçulmano deu aos sobreviventes a escolha entre converterem-se ao Islão ou morrerem. Até o nome Kafiristan (Terra dos Kafires) foi alterado para Nuristan, ou seja, «A Terra da Luz», evocando a «Nur» («Luz» em Árabe) do Alcorão. No Paquistão, entretanto, mantem-se até hoje o cerco islâmico aos Kalash, daí que muitos destes tenham já sido convertidos ao Islão, por vezes à força, quer dar intimidação armada, quer do rapto de mulheres kalash, lendárias pela sua beleza e alvura de pele.
Até meados do século XX, os Kalash eram prósperos, graças ao domínio britânicos, mas com o domínio islâmico da zona do Paquistão (como se sabe, este país foi criado artificialmente no século XX para servir de pátria aos muçulmanos), a vida dos Kalash começou a piorar. Nos anos cinquenta houve várias conversões forçadas, a pretexto de uma alegada imoralidade kalash e, actualmente, há grupos de muçulmanos que atacam regularmente quem pratica os rituais kalash, chegando ao ponto de destruir os seus ídolos. É verdade que o governo de Pervez Musharraf, de tendência laicista, parece querer preservar as minorias, e recentemente até se criou um grupo cultural de apoio à etnia Kalash; todavia, o cerco islâmico aperta-se e as conversões sucedem-se, a ponto de, actualmente, o povo estar dividido em dois grupos numericamente iguais (três mil para cada lado), um genuinamente kalash, outro já convertido ao Islão. A alta taxa de nascimentos tem compensado bem esta conquista islâmica, além de que a melhoria das condições sanitárias também tem ajudado a que os indivíduos deste povo vivam mais tempo, além de que acontece frequentemente haver conversos ao Islão que, secretamente, retornam à sua religião pagã, ancestral.
Como se não bastasse a já referida hostilidade dos povos vizinhos, a acelarada desflorestação posta em prática pela administração central implicou drásticas mudanças nos hábitos e tradições ancestrais de vida dos kalash, tão próximos da natureza. A acrescentar a isto, o governo paquistanês viu nos kalash uma atracção para o turismo e, consequentemente, uma extraordinária fonte de receitas, o que veio não só desrespeitar os locais sagrados dos kalash como também e acima de tudo perigar a própria existência do povo kalash, enquanto comunidade étnico-cultural específica, não obstante os esforços preservacionistas de associaçõs culturais gregas e de voluntários europeus que procuram estudar e auxiliar os kalash na defesa da sua singulariedade.
Com base no exemplo dos kalash, ocorre um pensamento inevitável: Será este o destino dos povos europeus? Estarão, a médio longo prazo, os povos europeus confinados a reservas, vulgo centros turísticos, como actualmente se encontram os kalash? A fatal marcha do povo irmão kalash em direcção à extinção é um alerta, é um aviso, mas ainda mais um grito de revolta que a todos deve impelir à resistência face ao “Sistema de matar os povos”, esse sistema mundialista, uniformizador e, por conseguinte, etnocida.
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