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terça-feira, 15 de março de 2011

Desta vez, como o leitor mais esperto possa ter percebido, refiro-me especificamente ao Dia Internacional da Mulher. Datas como estas são muito bem-sucedidas, porque não há quem se disponha a contrariá-las. Quem há de negar uma gentil homenagem às mulheres por seu dia? Como se vê, a etiqueta social e o amor dos homens pelas mulheres que fazem parte de suas vidas camuflam e imunizam a agenda feminista nela embutida. Vejamos, a propósito, esta notícia publicada pelo jornal O Liberal, de Belém, assim intitulada: "Discriminação de gênero tira mulheres de áreas exatas e preocupa governo":
Isto vai me dar um bocado de trabalho... percebam já a partir do título, a começar, pelo uso cretino deste termo, "gênero", quando o assunto é mulher. Ou será que o governo pretende quer incluir entre as mulheres para as suas políticas afirmativas todos aqueles do glossário GLBTSUVXZ? Todavia, considerando que a tal "discriminação de gênero" de fato exista, age com correção o jornal ao afirmar que ela "tira" mulheres da área das ciências exatas se neste espaço a presença feminina nunca foi marcante? Enfim, exsurge a questão: por quê isto preocupa o governo? Por quê isto deve causar preocupação ao governo? Será que os matemáticos do sexo masculino não estão executando seu trabalho a contento? Bom, talvez, quem sabe, um toque feminino há de arredondar o famigerado π ou a intuição feminina venha a descobrir, oxalá, quanto exatamente mede um lado de um cubo de 2m³...
Prestem atenção no que pensa sobre o assunto a Sra ministra Iriny Lopes, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SEPM) órgão ligado à Presidência da República:

"Esse direcionamento é feito pela família e também pela escola. As meninas vão, aos poucos, migrando para as áreas de assistência social, educação. Tudo que trata da área de cuidar do outro. Ficam com os meninos as áreas de mais ousadia e inovação. Isso é parte da explicação do porquê temos tão poucas mulheres cientistas"...


Então vejamos: de acordo com o estatuído pela Sra. ministra, nenhuma menina ou moça escolhe ou é capaz de escolher por si mesma se deseja seguir uma carreira ligada à área de exatas. Se ela opta por outras profissões, notadamente em humanas, é por causa da maléfica influência dos familiares e das escolas. Então, o que planeja nossa "guia infalível" para assuntos de igualdade de gêneros? Bingo: trocar a influência dos pais pela do estado. Brincadeira? Olha aí:
"Uma das nossas metas é chegar em 2014 com meio milhão de professores formados em gênero e diversidade, um programa que está sendo coordenado pelo Ministério da Educação. Temos que dar escala a essa formação e melhorar as condições para trabalhar a autonomia das mulheres"...
Para quem não entendeu, não se trata aí de colocar meio milhão de professores (ou professoras) de matemática a mais na rede pública, seja para ambos os sexos ou com prioridade para o feminino. Um feito como este e até eu tiraria o chapéu. O que o governo está preparando é pagar do bolso do contribuinte meio milhão de doutrinadores ideológicos feministas para fazerem uma lavagem cerebral nas meninas de modo a fazê-las pensar que o que elas desejam para si está errado e que os conselhos dos seus pais - aqueles que amam seus filhos, que desejam um futuro melhor para eles e que, ora bolas, pagam os impostos - isto é, se é que eles de fato influenciam tanto assim - devem ser rejeitados.
Agora vamos dar uma boa olhada na "cera demagógica" que jaz adiante:

A Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2010, que busca fazer uma análise das condições de vida no país, tendo como principal fonte de informações a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009, demonstrou que, mesmo mais escolarizadas que os homens, o rendimento médio das mulheres continua inferior ao dos homens. As mulheres ocupadas ganham em média 70,7% do que recebem os homens. A situação se agrava quando ambos têm 12 anos ou mais de estudo. Nesse caso, o rendimento delas é 58% do deles.

Ok, não vou negar, em princípio, os números apresentados, tampouco vou buscar justificativas mercadológicas ou sociológicas, que certamente existem (homens não tiram seis meses de licença-maternidade, por exemplo). Vou apenas apelar para a lógica rudimentar, acessível tanto para homens quanto para mulheres com um pingo de juízo na cachola : estes dados se verificam entre as mulheres profissionais engenheiras, arquitetas e cientistas, ou também englobam as médicas, as advogadas, pedagogas e biólogas? Ah, vale para todas as mulheres? Então por que raios estes dados estão sendo apresentados nesta reportagem? Percebam como contradizem diametralmente o objetivo almejado pelas declarações da ministra que, de acordo com seus próprios termos, induz ao raciocínio de que as mulheres ganham menos do que os homens justamente porque têm dificultado o acesso às "áreas de mais ousadia e inovação".

Entretanto, trechos assim não são colocados em destaque por mera estupidez, conquanto sempre tenhamos de dar aos seus responsáveis o benefício da dúvida. Na verdade, liquefeito, em geral, o senso crítico da grande massa de homens e mulheres, acostumados a balir números que lêem ou ouvem de terceiros sem se dar ao trabalho de interpretá-los, tais índices servem como ingrediente de propaganda subliminar. A coisa toda corre num âmbito subconsciente. Avaliem e confirmem outro flagrante do mesmo texto:

De acordo com a Pnad, as mulheres trabalham em média menos horas semanais (36,5) que os homens (43,9), mas, em compensação, mesmo ocupadas fora de casa, ainda são as principais responsáveis pelos afazeres domésticos, dedicando em média 22 horas por semana a essas atividades contra 9,5 horas dos homens ocupados.
Raciocinemos: se as mulheres trabalham em geral menos horas semanais que os homens, tal como afirma o parágrafo destacado da reportagem, qual a razão de usar a expressão "mas, em compensação, mesmo ocupadas fora de casa" para dizer que são as principais responsáveis pelos afazeres domésticos? Vejam como a expressão incorre numa inversão de lógica e simultaneamente em uma grotesca falsidade: a primeira acontece porque elas trabalham mais em casa justamente porque trabalham menos fora, e não, "em compensação"; destarte, e pasmem, elas fazem isto porque estão em casa, e não "mesmo ocupadas fora de casa". Vamos à prova real: 43,9 - 36,5 = 7,4 e 22 - 9,5 = 12,5. Assim, a maior parte da diferença, cerca de 60%, demonstra isto, sobrando apenas 5,1 horas em que as mulheres trabalham mais do que os homens e que este trabalho se dá em tarefas domésticas (E olhem que nisto está o fim de semana incluído). Entre 12, 5 e 5,1 há uma baita diferença, ou não?
Não vou aqui terminar a minha análise fazendo uma defesa da natureza feminina em contraposição à masculina. Como uma tendência, existem tais diferenças, e todos sabemos disto. E que bom que seja assim! O que vale pôr em relevo, é que a decisão pela escolha de uma carreira cabe ao jovem, rapaz ou moça, já que é o seu futuro que está em questão. Cada pessoa, homem ou mulher, tem uma personalidade, que deve ser respeitada. Alguns homens não entendem patavinas de matemática e há mulheres que demonstram um grande talento nesta disciplina. Os conselhos dos familiares e das escolas (as até então isentas) ajudam, porque a experiência dos mais velhos e a consultoria prestada por profissionais que lidam com testes vocacionais é um patrimônio valioso para eles, mas se estes influenciam, em certo grau, não é tão exato que o determinem.
O que o estado quer, por sua vez, é somente manipular as pessoas. Aposto que, acaso perguntados, nenhum destes professores, digo, doutrinadores de "gênero e diversidade" deverá saber declamar a fórmula de Bhaskara, mas aí estarão todos eles, a adentrarem nas salas de aula para incutirem na cabeça dos outros que eles sim é que devem se imbuir de tal mister. O que eles têm em mente é produzir artificialmente, à maneira das curvas forçadas do malogrado plano Bresser, um certo quantitativo de pessoas do sexo feminino inseridas no mercado da área de exatas e vão assim proceder, queiram ou não as mulheres que constituirão o objeto de suas metas de ação.
A princípio, toda engenharia social se faz de modo discreto: prêmios exclusivos para meninas em olimpíadas de matemática ou ainda, se preciso for, uma gradual e imperceptível redução de vagas em cursos típicos de mulheres, tais como o de magistério, para desviar um certo quantitativo de moças para as áreas técnicas e de engenharia sem que elas se dêem conta que estão sendo conduzidas à maneira de um rebanho bovino. Por fim, valerá a mais pura e descarada convocação ou arbitrariedade - pensem, por exemplo, nos concursos públicos com cotas, que, aliás, já existem para os partidos políticos, a inviabilizar muitos deles...
Eu tenho uma filha e não aprovo nada disso para ela. E você?

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