Rodrigo Constantino, Valor Econômico
O modelo econômico brasileiro está chegando a um ponto de esgotamento. A grande melhora nos termos de troca, fruto do acelerado crescimento chinês e da alta das commodities, permitiu um ambiente econômico favorável nos últimos anos. O crédito e o consumo dispararam, e nossa economia apresentou taxas razoáveis de crescimento.
Os gargalos estruturais, porém, já colocam em xeque esse modelo. A inflação tem rodado acima de 6% ao ano, e não se trata apenas de choque de oferta nas commodities. Há um superaquecimento na demanda, estimulada pelo crédito. O desemprego está em patamares historicamente baixos. Os serviços estão subindo uma média de 8% ao ano, sem sinais de arrefecimento à vista.
Enquanto isso, o governo parece viver em negação da realidade, torcendo para que alguma força divina possa aliviar a pressão inflacionária. Sem as reformas estruturais que possibilitariam aumento de poupança doméstica e juros menores, e sem as reformas microeconômicas que reduziriam a burocracia e levariam a um choque de produtividade, o governo acaba refém da política monetária como única ferramenta para conter a inflação.
O anúncio de corte nos gastos públicos não passou de propaganda enganosa, uma vez que os gastos serão maiores este ano do que foram em 2010. E o mercado financeiro começa a questionar a autonomia do Banco Central, que parece claramente "atrás da curva". Surge então a questão: a inflação vai ou não sair de controle?
Contar somente com a política monetária para segurar a inflação é como usar uma bazuca para matar uma formiga: o estrago é geral. Um dos efeitos colaterais do aumento dos juros é apreciar ainda mais a moeda, atraindo capital estrangeiro. O setor industrial, já vítima do excesso de burocracia e impostos, fica em situação ainda mais delicada. Para compensar essa perda de competitividade, o governo libera mais crédito subsidiado para grandes empresas por meio do BNDES. O tiro sai pela culatra.
A despeito do que pensam os atuais governantes, isso não funciona. Em primeiro lugar, a crença de que crédito para investimentos não gera inflação é absurda. Quando a própria presidente afirma, em entrevista a este jornal, que expandir mais ainda o balanço do BNDES não gera inflação, isso envia um alerta ao mercado. E o fato é que a expansão de crédito público foi absurda nos últimos anos. O BNDES tinha ativos de R$ 200 bilhões em 2007, e no ano passado esse valor chegou a R$ 550 bilhões. Um aumento de 270% em apenas três anos! Isso sem falar do risco de má alocação dos recursos, com critérios políticos, e não econômicos.
Em suma, o quadro econômico se encontra em estágio preocupante. Os ventos favoráveis externos criaram um ambiente propício à expansão creditícia. A inflação se aproxima do topo da banda da meta, já é elevada. O governo conta com a esperança de que ela vai automaticamente voltar a patamares mais comportados, sem drásticos cortes nos gastos, no crédito e sem subir muito os juros. Apenas com medidas "macroprudenciais" o dragão seria domado. Contar com isso é irresponsável.
Eis a encruzilhada em que o país se encontra agora. A conta dos excessos estimulados pelo governo parece ter chegado. Há basicamente dois modelos a seguir nesta bifurcação: o chileno e o argentino. No primeiro, o governo faria reformas estruturais, cortaria gastos públicos, retomaria o programa de privatizações, reduziria a burocracia e os impostos, e isso permitiria juros menores e acelerado crescimento sem gerar inflação. O dinamismo econômico faria com que pequenas e médias empresas tivessem mais acesso a capital. Infelizmente, parece um sonho distante.
No segundo modelo, o governo continua fingindo que não existem os problemas graves, tenta manipular os indicadores econômicos e usa bancos estatais para selecionar os grandes grupos nacionais "vencedores". O país continua dependente demais das commodities e, por tabela, do crescimento chinês. Os setores ligados à produção de bens básicos seguem com peso desproporcional na economia e na bolsa. A economia perde dinamismo, afetando as menores empresas. Trata-se um modelo fadado ao fracasso no longo prazo.
Qual será a rota que o Brasil vai tomar? Para os investidores, isso faz toda diferença do mundo. No primeiro caso, o Ibovespa poderia disparar rumo aos 100 mil pontos. No segundo caso, com muita sorte e ajuda externa, ele poderá ficar de lado, em torno dos 70 mil pontos, enquanto a renda fixa oferece retorno bem mais interessante, ainda mais se ajustada pelo risco.
Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital
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