"A
Petrobras é muito mais um instituto de previdência, que trabalha para os
funcionários, do que uma indústria lucrativa, que trabalha para os acionistas
(a sociedade)." — Roberto Campos
Neste ano de eleições, o Brasil precisa realmente ser reinventado. Um dos assuntos que merece ser abordado é a questão da energia.
Hoje,
já estamos importando quase tudo: gás,
eletricidade,
gasolina
e até etanol.
Sendo assim, não há mais nenhuma justificativa plausível para o Brasil manter
uma empresa estatal como a Petrobrás, que, segundo
seu próprio presidente, é uma monopolista que detém quase 100% da atividade
de refino no Brasil.
A
Petrobras passou a adotar preços internacionais de mercado, o que foi uma medida
correta, mas a concorrência
na área de extração e refino segue abolida. Na prática, temos uma estatal
que agora funciona "seguindo leis de mercado", mas que não quer sofrer
nenhuma concorrência de empresas privadas. Isso não faz sentido.
Ah,
mas pelo menos o "petróleo é nosso!", gritam os suspeitos de
sempre. Desculpe, mas, por enquanto, ele é dos árabes ou dos americanos com
novas técnicas de perfuração horizontal.
A
Arábia Saudita tem
um campo em Medina que, sozinho, produz mais petróleo que todos os campos da
Petrobras juntos. E, no Oriente Médio, o que se enxerga é a presença
constante do setor privado no melhoramento tecnológico deste negócio
extremamente arriscado, do qual o dinheiro público deveria ficar de fora.
Desde
o início, o setor privado é um grande protagonista. Por exemplo, o primeiro poço de
petróleo descoberto no Golfo Árabe não foi descoberto por nenhum
"Petro-Arabe", mas sim pela Standard Oil,
cuja atuação viria a inverter o equilíbrio regional e mundial no "ouro negro",
criando uma situação que dura até aos dias de hoje.
(Curiosamente,
o primeiro poço da Venezuela, no Orinoco, também foi descoberto por uma empresa
privada: a mesma
Standard Oil. Foi ela quem perfurou o poço "Canoa 1", o primeiro
descoberto no norte do rio Orinoco e que passou a fazer parte da chamada Faixa do Orinoco,
essencial para que a Venezuela fosse considerada em 2011 pela OPEP como o país
com as maiores reservas certificadas de petróleo no mundo).
Com a Petrobras é diferente
E
a "nossa" Petrobrás? Como se trata de uma empresa estatal, ela foi
inevitavelmente capturada pelos políticos e seus funcionários. Empresas
estatais, por sua própria natureza, representam uma porta permanentemente
aberta para ser aparelhada por políticos, que indicam protegidos e loteiam cargos
para seus apadrinhados.
Apenas
pense: por que os políticos disputam acirradamente o comando das
estatais? Por que eles reivindicam, por exemplo, a diretoria de operações
de uma estatal? Em tese, a diretoria de operações exige um corpo técnico. Por
que políticos? Qual a justificativa?
Simples:
é nas estatais que está o butim. As obras contratadas por estatais são vultosas
(muito mais vultosas do que obras contratadas por ministérios). O dinheiro
de uma estatal é muito mais farto. E, quanto mais farto, maior a
facilidade para se fazer "pequenos" desvios. Isso, e apenas isso, já
é o suficiente para entender por que políticos e sindicalistas são contra a
privatização de estatais. Estatais possibilitam uma grande mamata.
Com
isso em mente, vamos descortinar alguns de seus números, pois eles são
aterradores:
1)
Em faturamento anual por empregado, a Petrobrás é a penúltima
no mundo. Em 2016, enquanto a Petrobras pagava salários a 315.000 funcionários, entre
efetivos (84.000) e terceirizados (231.000), a
Shell, a Exxon e a British Petroleum (BP), juntas,
empregavam 262.000 pessoas, 53.000 a menos que a brasileira, com lucros somando
US$ 58,6 bilhões. (A Petrobras vem de quatro anos de prejuízos seguidos; ver item 3 abaixo).
A
Exxon Mobil emprega 83.500 pessoas em mais de 100 países e registrou lucro de
US$ 32,5 bilhões em 2014. A Royal Dutch Shell paga salários a 94.000
funcionários nos 90 países onde opera, e lucrou US$ 14 bilhões no mesmo ano. Apesar
de multas bilionárias por vazamentos, a British Petroleum (BP), que tem 84.500
funcionários, lucrou US$ 12,1 bilhões em 2014.
A
Petrobras opera 7.000 postos no Brasil e em meia dúzia de países. A Royal Dutch
Shell soma 44 mil postos mundo afora.
2)
A má gestão da Petrobras é espantosa: gastou R$ 2,7 bilhões em projetos de duas
refinarias para concluir
que eram inviáveis!
3) Em 2014, a estatal teve um prejuízo
de R$
21 bilhões. Em 2015, mais um de R$
35 bilhões, totalizando R$ 56 bilhões em dois anos. Em 2016, novo prejuízo de
R$
15 bilhões. E, finalmente, em 2017, a estatal conseguiu
fechar seu quarto ano seguido de prejuízo.
4)
Com mais de 300 mil funcionários diretos e indiretos, a estatal paga um Adicional
de Hora de Repouso e Alimentação (AHRA) (para um horário corrido de 8h) e
chega a distribuir 17 salários por ano.
5) Distribui "lucros que não foram realizados" em 2014 e 2015.
Mas os absurdos pioram.
5) Distribui "lucros que não foram realizados" em 2014 e 2015.
Mas os absurdos pioram.
6)
A Petrobrás tem processos no TST que podem
chegar a R$ 13 bilhões patrocinados por sindicatos de petroleiros, resultantes
de medidas tomadas pelo sindicalista
Diego Hernandes, que comandou o RH da empresa. Em 2007, ele estendeu o
pagamento de adicional de periculosidade (áreas de risco) — um benefício — a
todos os empregados da Petrobrás, mesmo os que trabalhavam sob o ar
condicionado dos escritórios. Tal valor equivalia a cerca de 30% do salário.
No
entanto, essa medida igualou todas as remunerações, se tornando fixa. Em
2012, os sindicatos foram à justiça pedir novo adicional para aqueles que
trabalham em situação de risco e exigindo pagamento retroativo, e outros
penduricalhos.
Resultado,
a empresa perdeu em todas as outras instâncias, com o TST se tornando a ultima
boia de salvação. E la nave va...
7) Pior de tudo: a Petrobrás, com a política do governo de controlar os preços dos combustíveis de acordo com sua conveniência político-eleitoral, transformou-se num buraco negro de dinheiro público. Esta desastrada política intervencionista destruiu o capital da estatal, causando um prejuízo de aproximadamente R$ 60 bilhões, provocando nos últimos anos uma perda de mais de R$ 200 bilhões no preço de suas ações em bolsa.
7) Pior de tudo: a Petrobrás, com a política do governo de controlar os preços dos combustíveis de acordo com sua conveniência político-eleitoral, transformou-se num buraco negro de dinheiro público. Esta desastrada política intervencionista destruiu o capital da estatal, causando um prejuízo de aproximadamente R$ 60 bilhões, provocando nos últimos anos uma perda de mais de R$ 200 bilhões no preço de suas ações em bolsa.
Em
qualquer país sério não passaria em branco uma destruição desta magnitude da
riqueza pública.
Os problemas e a solução
Os
problemas de um setor petrolífero nas mãos do estado são óbvios demais: ele
gera muito dinheiro para políticos, burocratas, sindicatos e demais
apaniguados. Isso é tentador.
A
gerência governamental sobre uma atividade econômica sempre estará subordinada
a ineficiências criadas por conchavos políticos, a esquemas de propina em
licitações, a loteamentos de cargos para apadrinhados políticos e a monumentais
desvios de verba.
No
setor petrolífero brasileiro, o dinheiro é retirado do subsolo e despejado no
buraco sem fundo da burocracia, da corrupção, dos privilégios e das
mamatas. Todos os governos estaduais e todos os políticos do país querem
uma fatia deste dinheiro para subsidiar suas burocracias e programas estatais
preferidos. Consequentemente, em todos os setores em que esse dinheiro é
gasto, ele é desperdiçado.
Caso
o setor petrolífero estivesse sob o controle de empresas privadas concorrentes,
o dinheiro retirado do subsolo seria de propriedade destas empresas e de seus
acionistas. Sim, haveria impostos sobre esse dinheiro. Mas a maior
parte dele ainda iria para mãos privadas. Tal arranjo manteria o grosso do
dinheiro longe das mãos do governo e dos seus apadrinhados, e garantiria que a
produção e a distribuição sempre ocorressem de acordo com interesses de
mercado, e não de acordo com conveniências políticas.
Sendo
assim, qual a maneira efetiva de se desestatizar o setor petrolífero do
Brasil? Para começar, legalizando a concorrência. Uma solução já foi dada neste artigo:
Para isso, bastaria o estado se retirar do setor petrolífero, deixando a Petrobras à sorte de seus próprios funcionários, que agora não contariam com nenhum monopólio, nenhuma proteção e nenhuma subvenção. O estado não precisaria vender nada para ninguém. Apenas sairia de cena, aboliria a ANP e nada faria para impedir a chegada concorrência estrangeira.A Petrobras é do povo? Então, nada mais coerente do que colocar este mantra em prática: após a retirada do governo do setor petrolífero, cada brasileiro receberia uma ação da Petrobras que estava em posse do governo. E só. Ato contínuo, cada brasileiro decidirá o que fazer com esta ação. Se quiser vendê-la, que fique à vontade. Se quiser mantê-la, boa sorte. Se quiser comprar ações das outras empresas petrolíferas que agora estarão livres para vir operar aqui, sem os onerosos fardos da regulamentação da ANP, que o faça. Se a maioria dos acionistas brasileiros quiser vender suas ações para investidores estrangeiros, quem irá questionar a divina voz do povo? Se o povo é sábio o bastante para votar, então certamente também é sábio o bastante para gerenciar as ações da Petrobras.O objetivo supremo é fazer com que o dinheiro do petróleo vá para as mãos do povo, e não para o bolso de políticos e burocratas.
Conclusão
Sem
o estado participando ativamente do setor petrolífero, não mais seria possível
ocorrer as manipulações, as indicações políticas e os jogos de favorecimento a
apadrinhados no alto comando da Petrobras, cuja fatura é legada a nós.
Apenas sinceramente espero que, em 2018, alguém faça os
cálculos de quanto será esta fatura total que imoralmente estamos deixando para as
gerações futuras.
Antônio Cabrera
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