Bunker da Cultura Web Radio

Free Shoutcast HostingRadio Stream Hosting

terça-feira, 16 de junho de 2020

A história da Disco Music


Assim como outros gêneros musicais, não é possível afirmar com exatidão seu nascimento, mas, suas origens remetem aos anos 60. Naquela época, a Black Music passava por grandes transformações. Apesar de sua força criativa, dificilmente chegava ao grande público. Era uma época de grandes conflitos raciais, com uma distinção entre o que era cultura para brancos e negros.
Conforme o movimento pelos direitos igualitários ganhava força, aos poucos, os negros americanos começaram a ganhar espaço no universo dominado por brancos. A Soul Music engatinhava seus primeiros passos ‘fora da casinha’.
Neste momento, produtores, arranjadores e maestros começaram a criar sons, que se diferenciavam pelo aumento do tempo do compasso e do uso de cordas, adicionando energia e excitação. As batidas ritmadas como a do coração, a percussão abundante, os arranjos vocais requintados, arranjos rítmicos de alto trompete e de corda foram os primeiros fundamentos do que se tornaria a Disco Music.
Outros músicos seguiram o exemplo e começaram a experimentar novos arranjos com instrumentos de sopro, flautas, trompetes e cornetas. Chegou o Funk – estilo que se caracterizava por uma batida que tinha um tempo próprio, elementos percussivos mais sofisticados e o sax. Uma vez que o soul e o funk já estavam incorporados pelo público negro, faltava um elemento que definiria o gênero: o jazz. Utilizando uma percussão mais latina, ele envolveu o soul com um sentimento mais pop. Esta união ‘soul’+’funk’+’jazz resultou na Disco Music.
A primeira gravadora responsável pelo movimento foi a Salsoul Records, na Filadélfia, que misturava música latina, salsa, soul e arranjos orquestrais.
Era o momento para o novo estilo musical. O cenário pop era dominado pela grandiloquência dos grupos de rock progressivo, com álbuns que flertavam com a música erudita. Isto começava a cansar o público. Enquanto na Inglaterra surgia o movimento Punk, com os jovens usando roupas de couro preto, cabelos raspados e contestando violentamente os valores da sociedade, na América, os ares eram outros. Era o momento da vibração sexy, leve e contagiante da Disco Music.


Soul Train @ Divulgação
Soul Train @ Divulgação

Mídia

A revista Rolling Stone escreveu o primeiro artigo sobre o gênero, em setembro de 1973, assinado pelo jornalista Vince Lettie. Um ano depois, Nova York inaugurava a WPIX-FM, a primeira rádio exclusiva de disco music.
A televisão levou o gênero para as casas da classe média. Criado por Don Cornelius em 1971, o programa de televisão ‘Soul Train’ foi o primeiro a fazer a transição dos artistas do Soul para a Disco. Na sequência surgiram ‘Disco Step-by-Step Television Show’, ‘Disco Magic/Disco 77’, ‘Soap Factory’ e ‘Dance Fever’, apresentado por Deney Terrio – creditado como preparador musical de John Travolta para seu papel em ‘Os Embalos de Sábado à Noite’.

Os templos

Nos primeiros anos da década de 1970 em Nova York, disco clubs (discotecas) eram espaços exclusivos para minorias – leiam-se homossexuais, negros e latinos. Estes lugares garantiam a diversão sem o julgamento social ou a perseguição policial. No meio da década, porém, as principais cidades americanas tinham suas casas.


Pista do Studio 54 @ divulgação
Com a inauguração do Studio 54 em abril de 1977 em Nova York, o termo Disco (abreviação do francês Discothèque) ganhou o mundo. Outras casas foram a ‘Xenon’, ‘The Loft’, ‘Paradise Garage’, ‘Copacabana’ e o ‘Aux Puces’ – uma das primeiras voltadas exclusivamente aos homossexuais.
O gênero ganhou tanta força, que algumas cidades montavam cursos com dançarinos profissionais para ensinar a ansiosos alunos os passos para se tornar o rei ou a rainha das pistas de dança.

Primeiros Hits

Mesmo não sendo conhecida como Disco, ‘Love Train’ (1972), do grupo The O’Jays, é considerada a primeira representante do gênero. Ela chegou a Billboard Hot 100. Em 1974, ‘Love’s Theme’, de Barry White se tornou a segunda canção disco a atingir a parada. No mesmo ano, ‘Shame, Shame, Shame’ (Shirley & Company) e ‘Rock The Boat’ (Hues Corporation) ganharam espaço nas rádios.
Somente em 1975, com a canção ‘The Hustle’ (Van McCoy), que a Disco Music chegou nas pistas de dança. A canção liderou o chart da Billboard, chegou a 3ª posição no Reino Unido e ainda ganhou um Grammy. Ano de ‘Kung-fu Fighting’ (Carl Douglas – single mais vendido), ‘Rock Your Baby’ de George McCrae e ‘Never Can Say Goodbye’, de Gloria Gaynor – regravação do The Jackson 5’s, que se tornou a primeira canção a figurar na recém-criada categoria ‘Dance’ da revista Billboard, onde permaneceu por quatro semanas.
Apesar de produzida um ano antes, ‘Shame, Shame, Shame’ também fez sucesso na época. Também foi o ano de ‘Get Down Tonight’, da banda americana KC and The Sunshine Band, que lançaria outros hits dançantes nos próximos quatro anos.

A Rainha

1975 foi o ano da coroação da Rainha da Disco Music: a cantora e compositora Donna Summer. Produzida por Giorgio Moroder, ela gravou ‘Love to Love Your Baby’, que continha uma série de reproduções de orgasmos. O produtor não dava nada para a canção, mas quando começou a tocar nas pistas de dança, rapidamente se tornou uma sensação, garantindo quatro semanas no primeiro lugar no chart da Billboard. Com o sucesso, a canção ganhou uma versão de 17 minutos.

Nos próximos cinco anos, Donna cravou 10 canções no primeiro lugar na parada dance – feito inigualável por qualquer outro artista. Outros nomes que tentaram roubar sua coroa foram Thelma Houston, Grace Jones, Alicia Bridges, Tina Charles, Yvonne Ellimar, France Joli, entre outras.

Álbum Mais Vendido

No dia 14 de dezembro de 1977 estreava nas telas o musical ‘Os Embalos de Sábado à Noite’, que contava a estória de Tony Manero, um vendedor de loja de New Jersey que se transformava em rei nas pistas de dança.
Estrelado por John Travolta, o filme custou parcos U$ 3.5 milhões e rendeu U$ 237.113.184 milhões. Foi o fenômeno da década, influenciando comportamento, moda, beleza, etc.


Os Embalos de Sábado à Noite @ divulgação_1
Produzida pelo grupo australiano Bee Gees, a trilha sonora entrou para a história com 15 milhões de cópias e quinze discos de platina. Até 1992, era a trilha sonora mais vendida da história. Com a chegada do arrasa-quarteirão estrelado por Whitney Houston, passou ao segundo posto – lugar que mantêm até hoje.

Agregados

Village People, Chic, Santa Esmeralda, Boney M e uma infinidade de bandas ‘one-hit-wonder’ garantiram os seis anos de sucesso do estilo musical, que despertou o interesse de artistas de outros estilos, como do grupo sueco ABBA, que ganhou o mundo com ‘Dancin’Queen’, ‘Gimme, Gimme, Gimme’ e ‘Voulez-Vous’. Outros que também se jogaram foram Blondie (‘The Heart of Glass’), Cher (‘Take Me Home’), ‘Rod Stewart (‘Da Ya Think I’m Sexy’), George Benson (‘Give Me the Night’), Elton John (‘Don’t Go Breaking My Heart’, ao lado de Kiki Dee), Barbra Streisand (‘No More Tears’, ao lado de Donna Summer) e The Jackson 5 (‘Shake Your Body’ e ‘Blame it on the Boogie). Até a Diva Diana Ross lançou alguns sucessos na época, como ‘Love Hangover’, ‘The Boss’ e ‘I’m Coming Out’.

A moda

Também conhecida como Era do Brilho, a Disco Music apostou nas cores espalhafatosas, nos lamês e strass. O cetim e a seda evocavam o glamour dos anos 20. No comportamento hedonista dos jovens, os macacões sem sutiã, os tops, vestidos frente única, calças boca de sino, coladas e transparentes permitiram que as mulheres tivessem liberdade para se produzir, mas sem esquecer que as roupas deveriam se segurar até o final da noite.
Entre os ícones, sapatos plataforma, meias lurex, lantejoulas, purpurina, shorts, camisas masculinas com maxi golas – usadas quase abertas para revelar os pelos do peito – sinal de masculinidade e sexualidade.


Studio 54 Cher @ Reprodução

O final

A Disco Music gerou US$ 8 bilhões por ano para indústria musical americana. Em 1978, as estações de rádio Disco alcançaram os maiores índices de audiência. No entanto, em 1979, o gênero dava sinais de esgotamento. Em 12 de julho, a coisa degringolou.
Steve Dahl, um DJ de Chicago, convocou fãs de rock para queimar álbuns de Disco Music no intervalo de uma partida entre os times de basebol Chicago White Sox e Detroit Tigers, no Comiskey Park. Foi uma confusão sem fim. A polícia fez diversas prisões e contabilizou a quase destruição do campo. O evento ficou conhecido como ‘Disco Demolition Night’, ou o ‘dia que a disco morreu’.


Cena do documentário Disco Demotion Night @ Reprodução
No dia 19 de julho, os seis discos mais vendidos nos EUA era de canções Disco. No dia 22 de setembro, porém, eles sumiram do Top 10. Na imprensa, em tom solene, era anunciado que a Disco Music  morreu e o rock renasceu.
O sentimento anti-disco uniu fãs de rock, punk e country – que em 1980 começava a galgar os primeiros lugares nas principais paradas americanas. No mesmo ano foi lançado ‘Cowboy Urbano’, com Debra Winger e John Travolta como protagonistas de um romance que se passava no Texas. Ironicamente ou não, novamente Travolta viveu o auge e o fim da Era Disco, lançando outro modismo: o estilo country.


Debra Winger e John Travolta and Debra Winger em Cowboy Urbano @ Hulton Archive/Getty Images
Outros fatores que contribuíram para o declínio do gênero foram a crise econômica e política nos Estados Unidos, as críticas ao estilo de vida hedonista e aos exageros dos frequentadores das discotecas e… Um levante homofóbico e racista que uniu feministas, punks, roqueiros, puritanos e reacionários. Com medo de represálias, rapidamente o DJ que orquestrou o evento de Chicago negou qualquer ideia de racismo ou homofobia. Sei.
No final de 1979, a indústria da música americana contabilizava as piores vendagens da década. Harold Childs, vice-presidente da A&M Records contou ao Los Angeles Times que ‘As rádios estão desesperadas pelos produtos do rock. Eles estão procurando por algum rock-n-roll branco’. Sobre isto, a cantora Gloria Gaynor afirmou que a indústria da música americana destruiu a Disco porque produtores de rock estavam perdendo dinheiro e os roqueiros estavam sendo deixados de lado.

O legado

Apesar disso, a Disco Music não morreu inteiramente. Sim, na América, ela entrou em declínio, assim como centenas de artistas solos ou grupo foram sumindo do mapa. Na Europa, porém, ela continuou. Foi se modificando ao longo dos anos, incorporou novas tecnologias e se revitalizou com a forte influência nos novos estilos da música eletrônica, como House, Techno, Trend, Acid, além do Rap e do Funk. O estilo deixou de se chamar ‘Disco’ para se tornar ‘Dance’. O mesmo ocorreu com as Discotecas, que ganharam o nome de Danceteria. A partir dos anos 90, o nome ‘Club’ definiu o tipo de casa.


Clash Club @ Divulgação
Confira as 100 principais canções que marcaram a época (além de outras pós-disco):
1974
Barry White (Love’s Theme)
Barry White (You’re The First, The Last, My Everyting)
Carl Douglas (Kung-fu Fighting)
George McCrae (Rock Your Baby)
Gloria Gaynor (Never Can Say Goodbye)
Hues Corporation (Rock The Boat)
Shirley & Company (Shame Shame Shame)
1975
Donna Summer (Love To Love You Baby)
KC & The Sunshine Band (Get Down Tonight)
KC & The Sunshine Band (That’s the Way I Like It)
LaBelle (Lady Marmalade)
Penny McLean (Lady Bump)
The O’Jays (I Love Music)
Tina Charles (You Set My Heart On Fire)
Van McCoy (The Hustle)
1976
ABBA (Dancing Queen)
Andrea True Connection (More More More)
Bee Gees (You Sould Be Dancing)
Boney M (Daddy Cool)
Boney M (Ma Baker)
Candi Staton (Young Hearts Run Free)
Cerrone (Love is C Minor)
Diana Ross (Love Hangover)
Donna Summer (Could it be Magic)
Elton John & Kiki Dee (Don’t Go Breaking My Heart)
KC & The Sunshine Band (Shake, Shake, Shake)
KC & The Sunshine Band (I’m Your Boogie Man)
Silver Convention (Fly Robin Fly)
Silver Convention (Get Up & Boogie)
Tavares (Heaven Must Be Missing An Angel)
The Trammps (Disco Inferno)
Tina Charles (Dance Little Lady Dance)
Tina Charles (I Love To Love)
Vicky Sue Robinson (Turn The Beat Around)
1977
Baccara (Yes Sir I Can Boogie)
Bee Gees (Night Fever)
Bee Gees (Stayin’Alive)
Brainstorm (Lovin’Is Really My Game)
Chic (Dance Dance Dance)
Donna Summer (I Feel Love)
Giorgio Moroder (From Here To Eternity)
KC & The Sunshine Band (Keep It Comin’Love)
Loleatta Holloway (Hit and Run
Native New Yorker (Odyssey)
Roberta Kelly (Zodiacs)
Santa Esmeralda (Don’t Le Me Be Misunderstood
T Connection (Do What You Want To Do)
The Universal Robot Band (Dance And Shake Your Tamborine)
Yvonne Elliman (If I Can’t Have You)
Grace Jones (I Need a man)
1978
A Taste of Honey (Boogie Oogie Oogie)
Alicia Bridges (I Love The Night Life)
Amanda Lear (Enigma)
Blondie (Heart of Glass)
Boney M (Rivers of Babylon)
Celi Bee & The Buzzy Bunch – Macho)
Cheryl Lynn – Got To Be Real)
Chic (Everybody Dance)
Chic (Le Freak)
Cissy Houston (Think it Over)
Dee D. Jackson (Automatic Lover)
Dee D. Jackson (Meter Man)
Donna Summer (Last Dance)
Donna Summer (Mac Arthur Park)
Eruption (I Can’t Stand The Rain)
La Bionda (One for you, one for me)
Michael Zager Band (Let’s All Chant)
Peaches & Herb (Shake your Groove Thing)
Rod Stewart (Da Ya Think I’m Sexy)
Sylvester (You Make Me Feel – Mighty Real)
The Jacksons 5 (Blame It On The Boogie)
The Jacksons 5 (Shake Your Body – To the Ground)
Village People (In The Navy)
Village People (Macho Man)
Village People (YMCA)
1979
ABBA (Gimme! Gimme! Gimme!)
ABBA (Voulez-Vous)
Amii Stewart (Knock On Wood)
Anita Ward (Ring My Bell)
Ashford & Simpson (Found a Cure)
Cher (Take me Home)
Chic (Good Times)
Deniece Williams (I’ve Got The Next)
Diana Ross (The Boss)
Donna Summer (Bad Girls)
Donna Summer (Hot Stuff)
Eruption and Beautiful Precisous Wilson – One Way Ticket)
France Joli (Come To Me)
Gloria Gaynor (I Will Survive)
Kool And The Gang (Ladies Night)
Michael Jackson (Don’t Stop Till You Get Enough)
Ottawan (D.I.S.C.O.)
Patrick Hernandez (Born To Be Alive)
Santa Esmeralda Feat. Jimmy Goings (Another Cha Cha)
Shalamar (Second Time Around)
Sister Sledge (He’s the Greatest Dancer)
Sister Sledge (We Are Family)
Viola Wills (Gonna Get Along Without You Now)
Voyage (Souvenirs)
1980
Diana Ross (I’m Comin’Out)
George Benson (Give Me The Night)
Kool & The Gang (Celebration)
La Flavour (Mandolay)
Lipps Inc. (Funky Town)
Stephanie Mills (Never Knew Love Like This Before)
Viola Wills (If You Could Read My Mind)
1981
Earth, Wind & Fire (Let’s Groove)
Linda Clifford (Red Light)
1982
Boys Town Gang (Can’t Take My Eyes off You)
Evelyn ‘Champagne’ King (Love Come Down)
Patricie Rushen (Forget Me Nots)
Ritchie Family (American Generation)

(Artigo: Jorge Marcelo Oliveira)

Nenhum comentário:

Postar um comentário