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sexta-feira, 5 de junho de 2020

O conceito de Herói no mundo atual

“Para viver honrosamente é preciso cortar-se, confundir-se, lutar, enganar-se, começar e abandonar, e de novo começar e de novo abandonar, e lutar eternamente e sofrer privações. A tranquilidade é uma baixeza moral” – Tolstói
Neste mundo atual é difícil lembrar o que é um ato heroico, embora todos tenham certa intuição dele, mas desconhecendo sua essência e razão.
Primeiro, é preciso deixar de lado as ideologias quando se trata de catalogar um feito heroico, o que já é uma primeira dificuldade neste mundo unilateral. Tão heroico poderia ser reconhecer o missionário que morria martirizado por levar a comunhão em países comunistas, como o seria o comunista que lutava pelos direitos elementares dos trabalhadores em Nova York e que fora espancado e assassinado por capangas do patronado.
Também não podemos prender-nos só no feito em si. Curiosamente, se pode ser igual de herói morrendo ou matando. Heroicos eram os mártires jogados aos leões em Roma por não renunciar de sua fé, os pagãos vítimas das perseguições cristãs, como o soldado que conseguiu resistir ante forças muito superiores a custa de graves ferimentos ou morte.
Roubar é um delito, mas quando uma pessoa se arrisca a roubar sacos de arroz na Coréia do Norte para entrega-los a suas famílias famintas sabendo que depois disso será detido e torturado, também é um ato heroico.
Nem mesmo o risco ou dificuldade grave é algo por si heroico. Nos circos um equilibrista efetua atos perigosos sem que seja necessariamente algo heroico, enquanto que o mesmo e até algo menos arriscado, o fizera uma pessoa comum para salvar a uma criança em perigo em um precipício, sim o seria. Uma vida dedicada a ajudar os necessitados pode ser heroica sem ter posto em perigo a vida. Há vidas heroicas sem riscos mortais críticos.
Também não podemos olhar só a intenção ética ou elevada, um ato nobre e dedicado nem sempre é heroico, ainda que seja digno de admiração. Além disso, o mesmo feito pode ser ou não ser heroico segundo o contexto em que se realiza. Assim, o ataque de soldados, por muito nobre que seja sua missão, no front com metralhadoras, não se considera heroico pese o seu risco, enquanto que se o fizera um civil para salvar a alguém, sim o seria.
No dicionário Larousse é definido heroico como “Distingue-se pelo seu grande valor, fortaleza ou virtudes”, mas já temos visto que nem o valor, nem a fortaleza, nem as virtudes por si mesmas definem o heroico.
Realizar um atentado terrorista muito arriscado que precise de grande ousadia não é um ato heroico. Resistir às duras condições de trabalho de uma mina por décadas requer fortaleza, mas não ser um herói. Uma vida honrada, virtuosa e nobre é digna, mas não heroica.
Vista a dificuldade para definir precisamente o heroico, apesar de sua imediatez pelo sentido comum, é melhor ir antes ao seu significado literal: Vem do grego “Heros”, semi-deus, líder militar épico. Heroarquia é a base da palavra Hierarquia (“Hieros” em grego significa Sagrado, origem de Hierarquia).
Se analisarmos com cuidado esta origem veremos já uma das bases do ato heroico: deve ser um ato “espiritual”, no sentido de elevado em seu objetivo e feito, que corresponda a uma exigência interna ética e exemplar. É essa qualidade moral a que transforma as demais condições de extremo valor, risco, esforço, etc… em feitos heroicos.
Dito isso, como a palavra “espiritual” ou “moral” podem ser interpretadas mal hoje em dia, como se fora um tema exclusivamente “religioso”, penso que a melhor forma de entender o tema heroico é sob a explicação de Schopenhauer: Herói não é quem provoca atos materiais extraordinários mas quem provoca sua própria vida como um ato contrário ao Egoísmo utilitarista. O ato heroico é uma substituição da Vontade à Utilidade, e sempre é um ato TRÁGICO.
Ou seja, o heroísmo é combater o egoísmo e o utilitarismo até um grau excepcional. Desta forma, Schopenhauer concreta o que os gregos chamavam “Sagrado” (Hieros), pois combater de forma extrema o próprio egoísmo e utilidade é um ato “sagrado”, elevado, excepcional entre os humanos.
Neste sentido temos de diferenciar os Grandes Homens, artistas excepcionais, personagens históricos fascinantes, etc… do Heroísmo como tal.
É interessante analisar esta diferença pois hoje se combate por igual tanto os grandes homens e os heróis, estamos na era da vulgaridade. Carlyle em “Os Heróis” não sabe distinguir entre Herói e Grande Homem, de forma que sua leitura pode confundir ambos os termos. Assim, podemos ler em sua obra: “Hoje é comum acreditar que o culto ao herói, tal como o entendo, tem decaído, desaparecendo realmente. Nossa época parece negar a existência de grandes homens… Mostrar a nossos críticos um grande homem, um Lutero, imediatamente começam a aniquilá-lo, vulgarizá-lo, como dizem, não a venerá-lo mas a medi-lo para acabar diminuindo-o.”
É assim também com Lutero ou Cromwell, poetas como Dante ou Shakespeare, Napoleão, etc. São as vítimas dos biógrafos atuais, com o único interesse de desprezá-los e acusá-los de qualquer coisa, seja ou não verdade. Um exemplar perfeito deste tipo de biógrafo é o judeu Stefan Zweig, que sempre atua igual em suas biografias: não nega os grandes feitos de seus biografados, mas sempre indica que como pessoas eram desprezíveis, miseráveis, etc… Inventando-se ou falsificando sua vida pessoal, enquanto mantêm a obra externa intacta, para assim ocultar melhor seu objetivo de aniquilar o “Grande Homem”.
Mas uma coisa é um Grande Homem e outra um Herói. Portanto temos de julgar sempre o ato heroico segundo seu grau de Anti-egoísmo, seu grau de combate e oposição ao interesse próprio.
Desta forma, o militar que atua gloriosamente na luta nem sempre é um herói pleno, pode ter atuado por necessidade de sobrevivência, por desejo de vitória, por buscar honras ou recompensa…
O Santo que leva uma vida exemplar só será Herói pleno se não o faz pensando em sua salvação, em uma “recompensa futura após a morte”. Não é que, apesar desse “interesse”, não haja certo heroísmo no combatente extraordinário e no santo sublime, mas seu heroísmo será tanto mais puro quando menos motivações egoístas existam.
Neste sentido que León Degrelle me disse uma vez que era muito mais duro a luta em 1970 que no Front do Leste de 1944, por que no Front não havia outra saída, a luta era em parte para sobreviver, e ainda o contexto favorecia o heroísmo, quase todos lutavam ao máximo, o combatente se sentia estimulado ao heroísmo. Em 1970 nada estimulava ao sacrifício, sem esperança nem meios e em um contexto contrário em tudo. Degrelle foi um Herói não tanto pela sua excepcional luta no front militar, mas porque quando estava já a salvo na Espanha, ameaçado de morte em todo o mundo, sem esperança alguma de vitória futura, seguiu fiel à luta, escrevendo, efetuando atividades, considerando que o exilariam ou sequestrariam, como assim se tentou várias vezes. Então, sem nada a ganhar e muito a perder foi quando mostrou essa “alma ardendo” que lhe faz um Herói de verdade.
Nesse grau de anti-egoismo, podemos dizer que Cristo é o Herói por excelência, até para um ateu (mesmo sem acreditar em sua realidade histórica, mas como “ideia”), a ideia de Cristo é o sacrifício absolutamente voluntário de tortura e morte por amor à Humanidade, para “salvá-la”. É o anti-egoismo puro.
No caso de Rudolf Hess seu heroísmo puro se inicia quando podendo sair da prisão se renunciava a seus princípios e aceitava as acusações, como fizeram outros, se manteve firme e preferiu seguir toda a vida na prisão, isolado, torturado e em condições sub-humanas. Ali lustrou até a perfeição seu heroísmo interior.
Tolstói disse que a “tranquilidade é uma baixeza moral”, e Santa Teresa dizia que “o maior pecado é querer ser feliz”, Nietzsche, tão distanciado aparentemente destas ideias “cristãs”, na realidade as apoia, combate o rebanho, a vulgaridade, o comodismo, a vida de prazeres:
“Considerar o sofrimento como algo mau a ser abolido, é o acúmulo da idiotice.” (Para além do bem e do mal).
Quando se é perguntado qual é o seu objetivo na vida, cada vez mais são os que respondem “ser felizes” e a essência dessa “felicidade” é a ausência de dor, o cumprimento das necessidades (as “utilidades”) e a possessão de elementos representativos, materiais, capazes de dar esse prazer. E em todo caso satisfazer necessidades psicológicas como segurança e autoestima, sem nenhuma referência a cumprir algum Dever superior ou ação contra seu próprio interesse.
O tipo humano do Herói vive e ama tão intensamente a vida que não lhe importa impor-se uma tarefa superior, não-egoísta, dominar seu interesse, para dar a essa vida um sentido “sobre-humano”, como diria Schopenhauer, enquanto que o propriamente “humano” é o interesse próprio e o egoísmo.
Personagens que lemos nas sagas vikings, gregos que parecem impossíveis em Tucídides, espartanos nas guerras médicas ou romanos de uma fase da história da etapa Republicana, resistentes de Berlim sem esperança em 1945, são os heróis homéricos personagens ideais que refletiam uma realidade. Todos esses homens que parecem mais personagens de uma Tragédia Ideal (mesmo que seja real), que uniam a seu valor, seu sentimento e sua qualidade humana.
Nesta época de anões morais, de vendidos, quando todo Herói é apresentado como um louco, todo gênio é um orgulhoso perigoso, todo humano excepcional é uma suspeita que merece ser difamada, é quando devemos apreciar o Heroísmo em sua pureza.
Podemos sonhar no Herói, mas cuidado com o “Anti-Herói”, o bárbaro dos bueiros, o que é “especial” por sua miséria moral, o excêntrico do lixo, o que se crê diferente mas na realidade o é por baixo. Estamos na era dos anti-heróis, dos “famosos”, das figuras e milionários do “ter” sem “ser”. Cuidado com confundir Siegfried com uma mistura do alegre vicioso e o ousado negociador.
Nossos Heróis não buscam ganâncias mas sacrifício, não são masoquistas mas alegres heróis que buscam algo superior ao mero prazer pessoal.
Ramón Bau

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