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quarta-feira, 24 de junho de 2020

Os Admirados de Adolf Hitler

Analisar as influências intelectuais exercidas sobre Adolf Hitler durante o período em que viveu em Viena, é indispensável na compreensão de sua cosmovisão em sua complexidade. Neste artigo que se sucede, visa-se apresentar uma brevíssima introdução aos nomes daqueles que compuseram, no começo do século XX, os ideias a que o jovem Hitler atentou-se, dos quais alguns foram por ele levados adiante durante a vida toda e concretados na execução de seus planos de governo na Alemanha entre 1933 e 1945.

Por finalidades de análise de conjuntura, reducionismos e categorizações fazem-se necessárias, portanto, há que se considerar o caráter introdutório do texto, especialmente no que se refere à transposição dos ideais pontificados pelos respectivos pensadores aos valores de Hitler, sintetizados em sua obra, “Mein Kampf” [Minha Luta], cujo conteúdo é de grande valor no entendimento dos juízos de valor emitidos pelo autor relativos aos pensadores. Faz-se mister levar em conta, também, o anacronismo histórico de valores, implícitos ou não, imputados por fontes e citações no decorrer do artigo.
Convém, também, explicitar que panteão de figuras que inspiraram Adolf Hitler e seu partido certamente não se limita aos três nomes abordados. Outros personagens históricos consagrados na historiografia mundial, como Frederico II da Prússia, Juliano, o apóstata, Richard Wagner e Otto von Bismarck, também são importantes no exame da formação ideológica do nacional-socialismo e, de maneira alguma, podem ser desconsiderados em uma análise histórica mais completa. Contudo, o artigo restringe-se apenas a três pensadores que influenciaram Hitler em seu período vienense.

O Jovem Hitler

Após mudar-se para Viena com o anseio de adentrar na Escola de Belas-Artes da Schillerplatz, em 1907, Adolf Hitler, ainda em seus dezoito anos de idade, levava uma vida ocupada com sub-empregos e com a arte. Segundo o Mein Kampf, o jovem Hitler, em suas horas vagas, desfrutava de passeios em parques, museus, bibliotecas e, sempre que possível, ouvia a ópera. Foi nesse período, também, em que Hitler conheceu de perto a pobreza e o desamparo social vigentes na Europa do entre-guerras, tendo inclusive que abandonar o quarto mobiliado que dividia com seu companheiro de infância, August Kubizek, e se realocar no Albergue de Meidling, durante o período em que manteve-se vendendo suas telas pelas ruas de Viena, na “mais negra miséria”.
Dada a então conjuntura dos acontecimentos, Adolf Hitler passou a nutrir seu interesse por política, até então adormecido. Viena, a despeito da pobreza e do crescente aumento da miséria, era na época uma cidade cosmopolita fortemente politizada, com uma população ciente de seus problemas sociais e com os olhos voltados para os desencontros internacionais desencadeados pela imigração desenfreada. Não era incomum a execução de discursos em praça pública dos descontentes com a situação política e social do país. Foi nesse contexto de efervescência social e política, em que Hitler desenvolveu seu manejo social e sua capacidade oratória, ofertando suas telas pelas ruas de Viena, bem como passou a se informar acerca da situação geopolítica europeia.

Jorg Lanz von Liebenfels

Na Avenida Felberstrasse, próxima de onde Hitler dividia “um triste e pobre quarto” com seu companheiro de infância, August Kubizek, havia uma tabacaria por ele frequentada, onde vendia-se uma revista, relativamente famosa para a época, intitulada “Ostara“, a qual tratava de problemas relativos à nacionalidade e à raça. Seu editor, que não raro assinava seus artigos com pseudônimos, chamava-se Jorg Lanz von Liebenfels e foi um monge católico integrante da ordem dos cistercianos, de onde foi expulso por conta de seu envolvimento com o ocultismo, considerado “transgressor”.
Além dos artigos que redigia para a revista Ostara, também publicou um livro intitulado “Teozoologia“, no qual apresentava uma teoria racial à luz do Evangelho, pressupondo uma concepção literal do livro de Gênesis na qual a queda do homem derivava da miscigenação de raças. Concebe-se, a partir de seus escritos, o desejo de dar uma dimensão transcendente à causa política mediante o acréscimo de um panorama teológico, como também defendido por Benito Mussolini e Giovanni Gentile em “A Doutrina do Fascismo”, embora seja inviável supor que Mussolini tenha tido qualquer acesso aos escritos de Liebenfels, uma vez que a publicação de suas revistas era restringida apenas a Viena.
Liebenfels não desacreditava em absoluto na luta de classes, contudo, promulgava que esta deveria ser transporta para um conflito de ordem racial e não social, de tal forma que a contraposição de classes – ou no caso, raças – preservasse a unidade nacional e não fomentasse a desagregação do povo, uma vez que a sua concepção de Estado nacional, como também para Hitler, era indissociável de uma determinada etnia. Foi também ele um dos grandes fomentadores da teoria da raça ariana, a qual visava promover mediante a exibição de concursos públicos de beleza.

Fac-Símile do periódico Ostara, editado por Liebenfels, que aludia aos Cavaleiros Templários e a raça ariana. Acredita-se hoje que Hitler tenha sido um leitor habitual (Foto: Cortesia Jörg Heiser)
Segundo Joachim Fest, um historiador alemão não muito confiável em matéria de nacional-socialismo, “Hitler visitou ocasionalmente Lanz para conseguir alguns números atrasados da revista que faltavam em sua coleção. Aparentemente, dedicou-se com fervorosa atenção ao exame da doutrina de Liebenfels […]. Em verdade, parte da doutrina do autor, foi por Hitler carregada durante toda a sua vida pública, expressa com suficiente clareza em uma fatídica passagem do segundo capítulo de Mein Kampf: ao resistir contra o judeu, luto pela obra do Senhor.
Há que se entender, porém, que a despeito das influências de Liebenfels, Hitler não era partidário de uma cosmovisão cristã de mundo. Segundo os relatos de Leon Degrelle, que conviveu pessoalmente com Hitler, o fuhrer, em sua leituras, transitava muito entre diversas tradições e, como expresso nas políticas institucionais do partido nacional-socialista, terminava por deixar o cristianismo em uma posição periférica, uma vez que a cosmovisão nacional socialista primava pelos valores indo-europeus.

Georg Ritter von Schönerer

Schönerer foi um homem de vida consagrada à atividade política, um indivíduo de grande influência nos setores onde exerceu publicamente a defesa de seus ideias. Foi ele um dos grandes responsáveis pela propagação do ideal pangermânico na Áustria, o qual consistia na defesa da unidade do povo germânico sob um mesmo Estado-Nação, anos mais tarde executado pelo Terceiro Reich.
Dado ao caráter nacionalista de seu discurso, prescrevia, portanto, que “A catedral da germânia será construída sem a ajuda de Judá e de Roma” – axioma emoldurado por Hitler e pendurado em sua cabeceira. Em constante inimizade com a Igreja Católica, ficou também conhecido por fundar o movimento “Los von Rom” [Livrai-nos de Roma], em oposição ao caráter supranacional de uma Igreja cujo clero responde não à federação, mas à Santa Sé. Pode-se aferir, portanto, que atuava em favor de uma nacionalização da Igreja, como defendido por Martinho Lutero no século XVI e por Alfred Rosemberg no século XX quando, em posse do cargo de “Delegado do Führer da Instrução e Educação Filosófica e Intelectual Total para o Partido Nacional-Socialista”, propôs um programa de trinta pontos para a chamada “Igreja Nacional do Reich”.
Para além da difusão da agenda pangermânica, também desenvolveu teses referentes ao anti-sionismo, cujos argumentos transcendiam o terreno religioso e econômico, por ele pouco considerados, e tratavam de considerações político-sociais e, por vezes, biológicas. Além de árduo combatente do sionismo e do catolicismo romano, também se contrapôs à monarquia Habsburgo, ao internacionalismo forçado e ao comunismo marxista.
Schönerer perdeu muito de sua força política em 1907, com a desintegração de seu partido, e morreu ainda durante a crise do pós-guerra, em 1921. Contudo, suas ideias permaneceram em vigência, nas políticas de Hitler e de demais membros do Partido Nacional-Socialista.

Karl Lueger

Lueger, então prefeito de Viena, foi por Hitler exaltado em Mein Kampf como “o derradeiro grande alemão da fronteira leste” e “o melhor e mais triunfante de todos os prefeitos alemães de todos os tempos”. Foi sem dúvidas um político de grande capacidade oratória e conciliatória, ao contrário de Schönerer, cuja intransigência travou-o politicamente, Karl Lueger transitava bem entre seus divergentes, adotava uma política mais calculada e pragmática, nem mesmo Hitler, na condição de admirador, deixou de poupá-lo de críticas relativas ao seu “antissemitismo superficial e oportunista”.
Considerando sua admiração por Nicolau Maquiavel, não é possível determinar com exatidão o quanto dos ideias prescritos por Lueger de fato coincidiam com a sua convicção, mas conclui-se, invariavelmente, que suas ações institucionais foram bem sucedidas no decorrer dos quinze anos em que exerceu o cargo de prefeito. Dotado de grande capacidade comunicativa, destacava-se na atividade política desde a juventude, quando fundou o Partido Cravo Branco, cujo lema era “é preciso ajudar os pequenos”.
Nesse período, o prefeito Karl Lueger, do Partido Cristão-Social, destacou-se por sua capacidade de articulação e mobilização de masas. Lueger, no ápice da industrialização, conseguiu contar com o apoio do operariado católico e da média e baixa burguesia de tal forma que assegurou os meios de ação para reformar toda a organização do ensino público, fortalecer a assistência social e gerar novos empregos. De acordo com Joachin Riedl, o Partido Cristão-Social, de Karl Lueger, chegou a contar, inclusive, com o apoio do canonizado papa Leão XIII, o qual tinha um retrato de Lueger em seu escritório.
Fontes:
[1] “Mein Kampf”, de Adolf Hitler
[2] “Hitler”, de Joachim Fest
[3] Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William L. Shirer
[4] “O Carisma de Adolf Hitler”, de Laurence Ress
[5] “Diários de Alfred Rosemberg”, de Alfred Rosemberg
[6] Mentes Independentes

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