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terça-feira, 21 de abril de 2020

O VERDADEIRO TIRADENTES

Tiradentes era maçom, assim como toda a conspiração, chamada Inconfidência, para separar Minas Gerais de Portugal e do Brasil, inspirada na revolução francesa. Todos foram perdoados pela coroa portuguesa, mesmo porque d. Maria I, a Piedosa, não gostava de guilhotinas, forcas ou fuzilamentos, visto que muitas de suas tias e primas foram vítimas da revolução francesa. O perdão de Tiradentes saiu no dia seguinte à farsa do enforcamento, por coincidência, e foi lido publicamente.
O estudo mais acurado do caso, aliás, deve passar pela pesquisa sobre a influência da Maçonaria no Brasil, sobretudo em Minas Gerais até o Rio de Janeiro no século 18 e 19. Recomendo a leitura de “Tiradentes, o poder oculto o livrou da forca”, de Assis Brasil. Mas esse é um tema transversal que mereceria muito mais espaço e tempo.
Tiradentes foi julgado e permaneceu na prisão até o dia que recebeu a notícia de seu perdão, entretanto, foi montada uma farsa, um auto que teve como coadjuvante o ladrão Isidro de Gouveia, que já iria morrer na forca, mas tomou seu lugar com a promessa de que sua família receberia uma pensão. As testemunhas ouvidas à época não reconheceram a figura de Tiradentes como o condenado que subia o patíbulo, tanto pela idade que aparentava como pela altura. Nem mesmo sua amante, que deveria ser a que mais intimidade tinha com ele, chegou a reconhecê-lo, embora estivesse sempre próxima. Esses relatos constam das reportagens de Hipólito da Costa e de Martim Francisco de Andrada:
“Durante todo o processo, ele admitiu voluntariamente ser o líder do movimento, porque tinha a promessa que livrariam a sua cabeça na hipótese de uma condenação por pena de morte. Em 21 de abril de 1792, com ajuda de companheiros da Maçonaria, foi trocado por um ladrão, o carpinteiro Isidro Gouveia. O ladrão havia sido condenado à morte em 1790 e assumiu a identidade de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida a ele pela Maçonaria. Gouveia foi conduzido ao cadafalso e testemunhas que presenciaram a sua morte se diziam surpresas porque ele aparentava ter bem menos que seus 45 anos.. No livro, de 1811, de autoria de Hipólito da Costa (“Narrativa da Perseguição”) é documentada a diferença física de Tiradentes com o que foi executado em 21 de abril de 1792. O escritor Martim Francisco Ribeiro de Andrada III escreveu no livro “Contribuindo”, de 1921: “Ninguém, por ocasião do suplício, lhe viu o rosto, e até hoje se discute se ele era feio ou bonito…”.
O corpo do ladrão Gouveia foi esquartejado e os pedaços espalhados pela estrada até Vila Rica (MG), cidade onde o movimento se desenvolveu. A cabeça não foi encontrada, uma vez que sumiram com ela para não ser descoberta a farsa. Os demais inconfidentes foram condenados ao exílio ou absolvidos. 
Machado de Assis, sempre atento aos desmandos da República da época, também desmente a versão do enforcamento:
“Daqui a espião de polícia é um passo. Com outro passo chega-se à prova de que  ele nem mesmo morreu; o vice-rei mandou enforcar um furriel muito parecido com o alferes, e Tiradentes viveu até 1818 de uma pensão que lhe dava D. João VI. Morreu de um antraz, na antiga rua dos Latoeiros, entre as do Ouvidor e do Rosário, em uma loja de barbeiro, dentista e sangrador, que abriu em 1810, a conselho do próprio D. João, ainda príncipe regente…”
Qualquer um com um mínimo de raciocínio compreende a falácia em que caímos. Em 1893 os republicanos encomendaram a Pedro Américo um quadro de Tiradentes esquartejado, barbudo, semelhante a Jesus Cristo. A madeira da forca se assemelha à da cruz, que está pleonástica e estrategicamente colocada ao lado da cabeça decepada. A história da delação é semelhante à de Judas, agora representado por Silvério dos Reis que, aliás, também se enforcou. Sem contar os inconfidentes e a narrativa dos encontros conspiratórios, que mais parecem ceias com os discípulos. Todas as imagens foram pensadas para você, ser pensante e inteligente, cair no conto do vigário.
Fica aqui a questão: Por que ainda comemoramos esse dia de Tiradentes? Por que até escolheram esse dia para divulgar a morte do presidente Tancredo Neves? E por que paramos de comemorar o Descobrimento do Brasil, que seria no dia seguinte, 22 de abril?
Já é hora de acordar desse pesadelo que é a manipulação da nossa História por pessoas sem seriedade em pesquisa ou pior, mal-intencionadas, que de má-fé construíram uma narrativa mentirosa, apoiada por uma imprensa leviana e incompetente, despreparada para checar fatos e documentos. Em meus estudos, pude ler em reportagens e artigos da imprensa “oficial” como um trabalho de anos de pesquisa séria foi desqualificado bastando consultar uma professorinha que nunca sequer examinou um só documento da época, apenas porque deveria ser amiga do jornalista.
Vera Helena Pancotte Amatti

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