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quinta-feira, 3 de março de 2011

QUESTÃO DE COERENCIA


A aliança do PT com os empresários e banqueiros está a anos-luz de ser uma política de direita e nada mais é do que a velha tradição leninista de subjugar os aliados.

Ser "conservador" ou de "direita" no Brasil tornou-se tabu para a maioria das classes pensantes. De fato, anos de doutrinação ideológica das esquerdas em escolas e universidades criaram uma verdadeira distorção semântica e confusão ideológica dos conceitos anatematizados. "Direitista" e "conservador" tornaram-se verdadeiros espantalhos intelectuais para que as esquerdas pudessem rotular os recalcitrantes, conforme aos seus caprichos. A influência cultural foi tão poderosa, que até aquelas pessoas que simpatizam com os valores da direita morrem de medo de admitir publicamente suas convicções, tamanha lavagem cerebral sofrida na cabeça da população. A chantagem psicológica, a intimidação, a falsificação histórica, a estigmatização, são joguinhos preferidos dos militantes esquerdistas, para deixarem a direita conservadora cada vez mais acuada e amedrontada.
O mais grotesco é a direita tentar se auto-justificar dentro dos cânones ideológicos da própria esquerda, promovendo e repetindo seu discurso. Quando perguntados a respeito da "reforma agrária", da "distribuição de renda", da "injustiça social", da "função social" da propriedade e outros slogans comunistas, o direitista médio cai numa sólida armadilha: ao invés de chutar a barraca e mostrar o contra-senso dessas idéias, faz justamente o contrário. Tenta legitimá-las, como se tais crenças fossem aspirações populares. Tal é o poder da revolução cultural marxista injetada sutilmente nas mentalidades formadoras de opinião e da política deste país. A hegemonia esquerdista é mais que absoluta. O pior é que a própria direita fortalece a essa hegemonia, como uma verdadeira idiota útil. Interessante notar uma questão, dentro dessa fábrica de difamação: ela tem origens nos anos 30 do século XX, na época em que a União Soviética reinava soberana sobre os intelectuais e onde Stálin era o guia genial dos povos. Os rótulos odiosos contra a direita na atualidade são bem mais velhos do que se imagina. "Reacionários", "fascistas", "atrasados", "inimigos do progresso" ou então "inimigos do povo". Ou no mínimo "corruptos", "ladrões", "bandidos". A propaganda soviética não morreu. Ela sobreviveu até mesmo depois da morte da falsa defunta russa.

Percebi isso certo dia, quando eu estava numa mesa de restaurante, confraternizando com meus amigos. Um deles é um senhor respeitável, jornalista, homem de bons drinques e uísque, além de cidadão do mundo, viajado. O outro é empresário, espírito inquieto e empreendedor nato, além de um ser entusiasta de boas idéias. Estávamos conversando sobre a política nacional, quando surgiu o nome do ex-Presidente Molusco, do Sr. Lula, e da stalinista búlgara Stella, ou Dilma Rousseff. Eu fiquei perplexo com a conclusão do meu amigo jornalista: ele achava que o PT tinha se tornado um partido de direita! Tal resposta deixou-me intrigado. E aí ele finalizou: achava que o PT era de direita porque modificou toda sua política anterior. Negociava com banqueiros, cooptava empresários e ainda era tão ou mais corrupto quanto os governantes anteriores, além de aceitar a estrutura democrático-parlamentar. Se meu amigo fosse marxista, Lênin diria que ele sofre do problema do "esquerdismo", a doença infantil do comunismo. Mas meu amigo está longe de ser esquerdista. É um senhor de sólidas convicções conservadoras. O problema é que o conservador médio não está sabendo sistematizar sua identidade, suas idéias.

Não pretendo aqui criar um sistema ideológico para as pessoas. Aliás, quem precisa dessa "consciência" hermética, fechada, são os sistemas e partidos totalitários. O paradoxo, contudo, é que a própria direita e os conservadores se vêem com os olhos da esquerda. Sem querer, meu querido amigo jornalista acabou por canalizar os estereótipos comuns disseminados por partidos de esquerda sobre a direita. A "direita", por assim dizer, não é um grupo com algumas idéias ou diretrizes políticas e ideológicas mais ou menos definidas, mas sim um tipo de conduta política, de preferência ruim, atrasada, corrupta. E a esquerda, quando revela ser corrupta, atrasada e ruim de forma piorada, nunca é esquerda. Vira "direita", ainda que os esquerdistas continuem a praguejar seu ódio ao capitalismo e à burguesia. No final das contas, a esquerda tem o monopólio das virtudes, mas nunca é responsável pelos seus atos. Até os atos da esquerda são culpas da direita. A linguagem viciada e desonesta da propaganda esquerdista faz com que toda a esquerda se isente da responsabilidade de seus crimes. E o pior é que muita gente boa cai nessa ilusão.
Na melhor das hipóteses, poderia-se afirmar que o PT se tornou de "direita", por ser da situação, governista. Se assim fosse, todos os Partidos Comunistas governantes na história do século XX seriam de "direita". Aí claro, dentro desse padrão, até a Rússia e China comunistas seriam direitistas. O que seria naturalmente absurdo!
Na mesmíssima mesa de restaurante, conheci outro jornalista, pessoa decente, de sólidos valores morais e homem de grande conhecimento da política brasileira e paraense. No entanto, fiquei chocado quando ele afirmou que o ex-candidato a Presidência da República, o tucano José Serra, era um homem de "extrema-direita". Epa! Agora fui pego de surpresa. Como alguém com um histórico da UNE, da Ação Popular e do Polop pode ser de "extrema-direita"? Reitere-se que a tal "Ação Popular" foi a sementeira do tumor eclesiástico chamado "Teologia da Libertação", o marxismo infiltrado nas fileiras da Igreja Católica. E o Polop, que se dizia um grupo católico, acabou por virar uma gangue terrorista bem marxista, responsável pelo atentado no Aeroporto Guararapes, em Pernambuco, no ano de 1966, matando duas e ferindo 15 pessoas. O mesmo José Serra já se afirmou de esquerda e, pasmem, acusou Lula de "direitista". E o PSDB ficou choramingando por não ter sido mais chamado para a Internacional Socialista, da qual fazia parte. Às vezes me pergunto de onde meus amigos extraíram esses conceitos políticos, para exprimirem algo tão fora da realidade! A razão explicável está no contra-senso do imaginário político que se consolidou no país. Contra-senso de idéias que distorce a compreensão real da situação política do país. Uma deformação intelectual que custará gerações para consertar.

Voltemos ao boneco de formol, Lênin. Qualquer leninista inescrupuloso e inveterado saberia entender o que significa a "doença infantil". Unir-se com banqueiros, aceitar dinheiro de empresários, fingir acatar o sistema democrático e parlamentar, é uma tradição tão arraigada do movimento revolucionário esquerdista, que só as pessoas ingênuas não percebem algo tão visível na política. Lênin já falava sobre isso, ao criticar a conduta sectária dos comunistas alemães na República de Weimar. E quem atualmente sustenta os movimentos revolucionários? Além do crime organizado, os banqueiros, os empresários, os donos do dinheiro, tal como Lênin aceitou alegremente dinheiro de empresários, dos banqueiros e até do "reacionário" Império Alemão para fazer sua revolução sangrenta. A Fundação Ford, Rockefeller, a ATTACC, do mega-especulador George Soros, dentre outros, vieram do comunismo? Não, são genuinamente capitalistas, embora adiram alegremente aos movimentos socialistas. E quem banca o vandalismo do MST, além do governo federal? ONG´s estrangeiras, financiadas por empresários e até por governos europeus. O PT, os chamados "movimentos sociais", a esquerda internacional, o ex-presidente Lula, são tão "direitistas" quanto o foram Lênin e os bolchevistas. A diferença é tão somente de tática.

Atualmente, os socialistas sabem que a economia planejada não faz parte de seus planos. Eles almejam aquilo que Hitler falou ao seu confessor, Hermann Rauschning: o Führer confessou que a natureza do nacional-socialismo mudaria a relação do homem com o Estado. Não socializariam as propriedades e sim o povo!


O empresário médio não terá sua propriedade confiscada. Porém, perderá uma boa parte do domínio dela, já que o Estado inventará meios de regulamentá-la, cada vez mais, até transformar o proprietário numa espécie de fiel depositário ou posseiro do governo. O Estado socialista atual não acabará com o capitalismo. Vai é controlá-lo, domesticá-lo, para os amigos do rei e do Partido. Não é assim que funciona o esquema petista atual? Não é assim o sistema chinês, imitado pelo Vietnã e até pela Rússia, com algumas concessões e adaptações? Meia dúzia de empresários beneficiários pelo governo, tal como um cartel de privilégios financeiros e governamentais, em troca de aliança e sustento das estruturas políticas esquerdistas neo-totalitárias. Só que cada vez mais a burocracia estatal vai se expandir, como o empresário se tornará eterno refém de uma legiferança absurda, que criminalizará a vida social sob o pretexto de protegê-la. Tal expediente não será feito dentro de um sistema totalitário e sim nas democracias, através de organismos administrativos e ações judiciais. A aliança do PT com os empresários e banqueiros está a anos-luz de ser uma política de direita e nada mais é do que a velha tradição leninista de subjugar os aliados, aproveitando-se de seus benefícios. A diferença é que antes, os comunistas fuzilavam seus aliados. Hoje, os aliados serão apenas idiotas úteis domesticáveis, trabalhando para o enriquecimento do governo. Só não percebe quem não quer.
Uma questão de coerência entre as direitas. Elas precisam resgatar os valores comuns da vida, da liberdade, da família, do individualismo político, da tradição e da propriedade, além da livre iniciativa. Devem proteger esses valores, que são imprescindíveis para um sistema democrático estável e respeitável. Não basta apregoar a economia de livre mercado e limitar o poder do Estado. O combate deve ser cultural, no sentido de revelar os aspectos totalitários criminosos que estão por detrás da ideologia de engenharia social esquerdista. A guerra atual não é entre democracia e totalitarismo, mas entre os valores da civilização ocidental e os contra-valores da revolução cultural socialista. É a raiz do problema, que a direita, cega e estupefata, não consegue ver

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