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sexta-feira, 29 de maio de 2020

AS PARTICULARIDADES REVELADAS ATRAVÉS DO CADÁVER DE DOM PEDRO I


Pintura de Dom Pedro I, o Imperador do Brasil
Pintura de Dom Pedro I, o Imperador do Brasil - Wikimedia Commons

Em 2010, a arqueóloga e historiadora Valdirene do Carmo Ambiel pediu aos descendentes da família imperial brasileira uma solicitação para que ela pudesse exumar os restos mortais das figuras mais emblemáticas do império no Brasil. Consequência de profundos e extensos estudos, a ação foi finalmente possibilitada e realizada dois anos depois, em 2012.
Capela Imperial do Ipiranga foi aberta em sigilo, pela madrugada quente de fevereiro. Situada sob o Monumento de Independência do Brasil, em São Paulo, a sepultura guardava o primeiro imperador do Brasil, D. Pedro I, e suas duas mulheres, sua primeira esposa Maria Leopoldina de Áustria e sua segunda esposa Amélia de Leuchtenberg.
O local é um símbolo do passado monarquista do Brasil e se tornou ainda mais importante ao guardar os corpos desses indivíduos. Em parceria com 11 instituições dos três âmbitos de governo, a exumação liderada por Ambiel revelou informações anteriormente desconhecidas sobre a história da família real e ainda desmentiu mitos que perpassaram séculos.
Esse tipo de investigação arqueológica nunca antes foi feito no Brasil. Ela foi responsável por documentar detalhes insólitos sobre os personagens históricos e foi revelada ao público somente um ano depois de ser iniciada. No dia 18 de fevereiro de 2013, a arqueóloga responsável pela exumação apresentou a pesquisa como sua dissertação de mestrado no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
O cadáver do imperador

Exumação no caixão de Dom Pedro I / Crédito: Divulgação

As informações obtidas por meio de exames de tomografias e ressonâncias magnéticas, que chegaram até mesmo a ter sessões que duraram cinco horas, puderam revelar mais sobre o passado de uma das figuras mais icônicas da história do Brasil, o primeiro imperador D. Pedro I. Por mais que tivesse sido exumado com suas duas esposas, ele foi a atração principal dessa peça.
Ele foi levado da cova imperial no Parque da Independência para a Faculdade de Medicina da USP, onde, pela primeira vez, pessoas muito antigas foram transformadas em pacientes. De maneira quase literal: eles tinham fichas cadastradas, equipe médica individual e foram transformados em ilustrações.
No entanto, logo no começo das três madrugadas em que os pesquisadores retiravam os corpos da cripta, já foi possível perceber que seria uma investigação repleta de surpresas. A primeira delas foi em relação a D. Pedro: apesar de ser conhecido como o maior “libertador” do Brasil, não carregava nenhum símbolo sequer que fizesse referência ao país tropical que foi responsável por governar e onde viveu grande parte da vida.
Ele portava somente homenagens dadas aos generais de Portugal, como medalhas (todas em referência ao país europeu), vestimenta oficial, com direito a botas de cavalaria, e galões em forma de coroa de Portugal. Apenas uma referência ao período em que o português governou o Brasil foi feita em sua sepultura. Na tampa de um dos três caixões de Pedro I, estava escrito “Primeiro Imperador do Brasil”, ao lado de “Rei de Portugal e Algarves”.

Ilustração de Dom Pedro I / Crédito: Wikimedia Commons

Além disso, as fraturas encontradas em seu corpo também foram analisadas e comparadas com os acontecimentos conhecidos de sua vida. Por exemplo, marcas de fratura em seus ossos confirmavam os relatos de acidentes de cavalo que sofridos, ambos no Rio de Janeiro, tanto em 1823 quanto em 1829, ao cair de uma ladeira e quando conduzia uma carruagem, respectivamente.
Sua altura também foi medida: o Imperador tinha entre 1,66 e 1,73 metros e, ao contrário do que dizia uma placa no Monumento de Independência, seu corpo não tinha sido cremado após sua morte em 1834.
"Unimos as ciências humanas, exatas e biomédicas com o objetivo de enriquecer a História do Brasil. Uma cripta imperial foi transformada em laboratório de especialidades, com profissionais usando os equipamentos mais modernos em prol da pesquisa histórica. O material coletado será útil para que pesquisas continuem em diversas áreas ao longo dos próximos anos”, disse a arqueóloga e historiadora responsável pela pesquisa.

ISABELA BARREIROS




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