Bunker da Cultura Web Rádio

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ideologia do Governo Mundial

por Aleksandr Dugin

Após a Guerra do Golfo, quase toda a mídia de massa na Rússia, bem como no Ocidente, injetaram no discurso quotidiano a fórmula "Nova Ordem Mundial", criado por George Bush, e então usada por outros políticos incluindo Gorbachev e Yeltsin. A Nova Ordem Mundial, baseada no estabelecimento de um Governo Único Global, como já foi candidamente admitido por ideólogos da Comissão Trilateral e de Bilderberg, não é simplesmente uma questão de dominação político-econômica de uma certa claque governante "oculta" de banqueiros internacionais. Essa "Ordem" baseia-se na vitória em escala global de uma certa ideologia especial, e assim o conceito concerne não apenas a instrumentos de poder, mas também a "revolução ideológica", um consciência "golpista", um "novo pensamento". A vagueza de formulações, a secretividade e cautela constantes, o mistério deliberado dos mundialistas não permite, até o último momento, discernir claramente o contorno dessa nova ideologia, que eles decidiram impor sobre os povos do mundo. E apenas após o Iraque, como seguindo-se às ordens de alguém, certas proibições foram descartadas e múltiplas publicações apareceram, que começaram a chamar as coisas por seus próprios nomes. Assim, tentemos, com base nas análises conduzidas por um grupo de funcionários do corpo editorial da revista Elements, nos termos mais gerais, definir os elementos básicos da ideologia da Nova Ordem Mundial.

A Nova Ordem Mundial representa em si mesma um projeto messiânico, escatológico, excedendo em muito o escopo de outras formas históricas de utopias planetárias - como o movimento protestante primitivo na Europa, o Califado Árabe, ou os planos comunistas para uma Revolução Mundial. Talvez, esses projetos utópicos tenham servido como prelúdios para a forma final do mundialismo, testes que avaliaram mecanismos integracionais, a efetividade de estruturas de comando, prioridades ideológicas, métodos táticos, etc. Colocando isso de lado, o mundialismo contemporâneo, absorvendo a experiência do protestantismo, heresias escatológicas, revoluções comunistas, e cataclismas geopolíticos de séculos distantes, aperfeiçoou suas formulações finais, finalmente determinando o que era pragmático e incidental em formas prévias, e o que realmente compunha a tendência básica da história no caminho para a Nova Ordem Mundial. Após toda uma sequência de vacilações, ambiguidades, passos pragmáticos e blecautes táticos, o mundialismo contemporâneo finalmente formulou seus princípios fundamentais considerando a situação atual. Esses princípios podem ser classificados em quatro níveis:

1. Econômico: A ideologia da Nova Ordem Mundial pressupõe o estabelecimento completo e mandatório do sistema de mercado capitalista liberal sobre todo o planeta, sem consideração por regiões culturais e étnicas. Todos os sistems sócio-econômicos que portam elementos de "socialismo", "justiça social ou nacional", "proteção social" devem ser completamente destruídos ou transformados em sociedades de "livre-mercado". Todas os flertes passados do mundialismo com modelos "socialistas" estão sendo completamente paralisados, e o liberalismo de mercado está tornando-se o único elemento econômico dominante no planeta, governado pelo Governo Mundial.

2. Geopolítico: A ideologia da Nova Ordem Mundial dá preferência incondicional a países que compõem o Ocidente geográfico e histórico em contraste com os países do Oriente. Mesmo no caso de uma localização relativamente ocidental de um país ou outro, ele sempre será favorecido em comparação com um vizinho do leste. O esquema previamente implementado de aliança geopolítica do Ocidente com o Oriente contra o Centro (por exemplo, Ocidente capitalista junto com Rússia comunista contra Alemanha nacional-socialista) não está mais em uso pelo mundialismo contemporâneoo. A prioridade geopolítica de orientação ocidental está tornando-se absoluta.

3. Étnico: A ideologia da Nova Ordem Mundial insiste na maior mistura racial, nacional, étnica e cultural possíveis dos povos, dando preferências ao cosmopolitanismo das grandes cidades. Movimentos nacionais e micronacionais, usados anteriormente pelos mundialistas em sua luta contra os "grandes nacionalismos" de tipo imperial, serão decisivamente suprimidos, já que não haverá mais lugar para eles nessa Ordem. Em todos os níveis, a política nacional do Governo Mundial será orientada para a mistura, para o cosmopolitanismo, daí em diante.

4. Religioso: A ideologia da Nova Ordem Mundial está preparando a vinda ao mundo de uma certa figura mística, o surgimento da qual, supõe-se que mudará a cena religioso-ideológica no planeta. Ideólogos do mundialismo eles mesmos estão convencidos de que o que quer dizer-se com isso é a vinda ao mundo do Moshiah, do Messias que revelará as leis de uma nova religião para a humanidade e realizará muitos milagres. A era do uso pragmático de doutrinas ateístas, racionalistas e materialistas pelos mundialistas acabou. Agora, eles estão proclamando a vinda de uma época de "nova religiosidade".

Essa é exatamente a imagem emergindo de uma análise das últimas revelações por ideólogos da Comissão Trilateral, do Clube Bildeberg, do Conselho Americano de Relações Estrangeiras, e outros autores, servindo intelectualmente ao mundialismo em diversos níveis - começando com o "neoespiritualismo" e terminando com os desenhos econômicos e estruturais de tecnocratas pragmáticos. O estudo cuidadoso desses quatro níveis da ideologia do Governo Mundial é uma preocupação de muitos projetos e trabalhos de pesquisa sérios, uma parta dos quais, nós esperamos, aparecerá nas páginas dos volumes seguintes de Elements. Mas nós gostaríamos de focar em diversos aspectos imediatamente. Em primeiro lugar, é importante notar que essa ideologia não pode ser qualificada nem como de "direita" ou de "esquerda". Mais do que isso, dentro dela existe uma sobreposição consciente e essencial de duas camadas, relacionadas às realidades políticas polarizadas. A Nova Ordem Mundial é radicalmente e rigidamente "direitista" no plano econômico, já que assume a primazia absoluta da propriedade privada, do livre-mercado absoluto, e do triunfo dos apetites individualistas na esfera econômica. Simultaneamente, a Nova Ordem Mundial é radicalmente e rigidamente "esquerdista" no fronte político-cultural, já que a ideologia do cosmopolitanismo, da miscigenação, do liberalismo ético pertencem à categoria das prioridades políticas "esquerdistas". Essa combinação de "direita" econômica com "esquerda" ideológica serve como o eixo conceitual da estratégia mundialista contemporânea, uma base para o desenho da civilização futura. Essa ambiguidade é manifesta mesmo no próprio termo "liberalismo", que, no nível econômico representa "livre-mercado absoluto", mas no nível ideológico clama por uma "suave ideologia de permissibidade". Hoje, nós podemos justificadamente afirmar que o Governo Mundial baseará sua ditadura não em algum modelo típico de "tirania totalitária", mas nos princípios do "liberalismo". Reveladoramente, é exatamente nesse caso que a terrível paródia escatológica chamada Nova Ordem Mundial, será aperfeiçoada e completada.

Em segundo lugar, o Ocidente, situado na cabeça das teorias geopolíticas da Nova Ordem mundial como hemisfério em que o Sol, o Sol da História, põe-se, assume o papel tanto de modelo estratégico quanto de modelo cultural. No curso da última fase da realização dos projetos mundialistas, o simbolismo natural deve concorrer completamente com o simbolismo geopolítico, e a complexidade das construções de blocas, manobras e alianças políticas geopolíticas precedentes, que os mundialistas usaram anteriormente para alcançar seus objetivos agora abrem espaço para uma lógica globalista cristalina, que mesmo um simplório poderia compreender. Em terceiro lugar, o Messias, cuja vinda as instituições mundialistas deverão facilitar, é, do ponto de vista de diversas tendências religiosas como o Cristianismo Ortodoxo e o Islã, claramente e sem dúvida associado com a figura sinistra do Anticristo. Como segue-se da própria lógica do drama apocalíptico, no curso do conflito final, o embate ocorrerá não entre o Sagrado e o Profano, não entre Religião e Ateísmo, mas entre Religião e Pseudo-Religião. É por isso que o Messias do Governo Mundial não é simplesmente um "projeto cultural", um novo "mito social", ou uma "utopia grotesca", mas é algo muito mais sério, real, e terrível. É completamente óbvio que os oponentes do mundialismo e os inimigos da Nova Ordem Mundial (os membros dessa revista contam-se entre estes) devem assumir uma posição radicalmente negativa em relação a essa ideologia. Isso significa que é necessário combater o Governo Mundial e seus planos com uma ideologia alternativa, formulada pela negação da doutrina da Nova Ordem Mundial.

A ideologia radicalmente oposta ao mundialismo também pode ser descrita em quatro níveis:

1. Econômico: Prioridade da justiça social, da proteção social, e dos fatores nacionais e comunais no sistema de produção e distribuição.
2. Geopolítico: Uma orientação clara para o Leste e solidariedade com os setores geopolíticos mais ao leste na consideração de conflitos territoriais, e daí em diante.
3. Étnico: Fidelidade às tradições nacionais, étnicas e raciais e às características dos povos e Estados, com uma preferência especial pelo "grande nacionalismo" de tipo imperial em contraste com os mini-nacionalismos com tendências separatistas.
4. Religioso: Devoção às formas religiosas originais e tradicionais - mais importantemente, Cristianismo Ortodoxo e Islã, que claramente identificam a "nova religiosidade", a Nova Ordem Mundial, e o Messias com o mais sinistro ator do drama escatológico, o Anticristo (Dadjal em árabe).

A frente de combate ideológico anti-mundialista deve também combinar em si mesma elementos de ideologias "esquerdistas" e "direitistas", mas nós também devemos ser "direitistas" em termos políticos (em outras palavras, "nacionalistas", "tradicionalistas", etc.) e "esquerdistas" na esfera econômica (em outras palavras, apoiadores da justiça social, do "socialismo", etc.). Em verdade, essa combinação mesma não é apenas um programa político convencional e arbitrário, mas uma condição necessário nessa fase do conflito. A prioridade geopolítica do Leste torna incumbente a nós renunciar completamente aos preconceitos "anti-asiáticos", às vezes sustentado pela direita russa sob a influência de um exemplo ruim e desnecessário da direita européia. "Anti-asianismo" joga apenas nas mãos da Nova Ordem Mundial. E, finalmente, lealdade à Igreja, aos ensinamentos dos Santos Padres, ao Cristianismo Ortodoxo é um elemento necessário e extremamente importante da luta anti-mundialista, já que a substância e o significado dessa luta está em escolher o Verdadeiro Deus, o "lado certo", a "parte abençoada". E ninguém será capaz de salvar-nos dos falsos encantos, do pecado, da tentação e da morte nessa terrível jornada, a não ser o Filho de Deus. Nós devemos tornar-nos Sua hoste, Seu exército, Seus servos, e Seus missionários. O Governo Mundial é a última rebelião do mundo inferior contra o Divino. Curto será o instante de seu triunfo. Eterna será a alegria daqueles que unir-se-ão às fileiras dos "últimos combatentes pela Verdade e Liberdade em Deus."

O Juiz Verdadeiro "vira inesperadamente".


Tudo isso é muito lindo, mas, por definição, o Anticristo se apresentará explicitamente como personificação do próprio Cristo, coisa que a Nova Ordem Mundial dos Rockefeller não faz, mas a Rússia de Duguin faz. Na série ascendente dos falsos cristos, o projeto eurasiano está, portanto, um passo adiante da Nova Ordem Mundial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário