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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Lula é um fenômeno religioso

Por Jorge Roriz
“Nunca antes nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos tanto de  cabeça para baixo. Já sabemos que a corrupção no País não é um “desvio” da  norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos e nas  almas.”

Lula é um fenômeno religioso

Arnaldo Jabor

Lula não é um político – é um fenômeno religioso. De fé. Como as igrejas que  caem, matam os fiéis e os que sobram continuam acreditando. Com um povo de  analfabetos manipuláveis, Lula está criando uma igreja para o PT dirigir,  emparedando instituições democráticas e poderes moderadores. 
Os fatos são desmontados, os escândalos desidratados para caber nos  interesses políticos da igreja lulista e seus coroinhas. Lula nos roubou o  assunto. Vejam os jornais; todos os assuntos são dele, tudo converge para a  verdade oficial do poder. Lula muda os fatos em ficção. Só nos resta a  humilhante esperança de que a democracia prevaleça.
Depois do derretimento do PSDB, o destino do País vai ser a maçaroca informe  do PMDB agarrada aos soviéticos do PT, nossa direita contemporânea. Os  comentaristas ficam desorientados diante do nada que os petistas criaram com o  apoio do povo analfabeto. Os conceitos críticos, como “razão, democracia,  respeito à lei, ética”, ficaram ridículos, insuficientes raciocínios diante do  cinismo impune.
Como analisar com a Razão essa insânia oficial? Como analisar o caso Erenice,  por exemplo, com todas as provas na cara, com o Lula e seus áulicos dizendo que  são mentiras inventadas pela mídia? Temos de criar novos instrumentos críticos  para entender esta farsa. Novos termos. Estamos vendo o início de um “chavismo  light”, cordial, para que a “massa atrasada” seja comandada pela “massa  adiantada” (Dilma et PT). Os termos têm de ser mudados. Não há mais “propina”;  agora o nome é “taxa de sucesso”. A roubalheira se autonomeia “revolucionária” -  assalto à coisa pública em nome do povo. O que se chamava “vítima” agora se  chama “réu”. Os escândalos agora são de governos inteiros roubando em cascata,  como em Brasília, Rondônia e Amapá – são “girândolas de crimes”. Os criminosos  são culpados, mas sabem tramar a inocência. O “não” agora quer dizer “sim”.
Antigamente, se mentia com bons álibis; hoje, as tramoias e as patranhas são  deslavadas; não há mais respeito nem pela mentira. Está em andamento uma  “revolução dentro da corrupção”, invadindo o Estado em nossa cara, com o fito de  nos acostumar ao horror. Gramsci foi transformado em chefe de quadrilha.
Nunca antes nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos tanto de  cabeça para baixo. Já sabemos que a corrupção no País não é um “desvio” da  norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos e nas  almas. Nosso único consolo: estamos aprendemos muito sobre a dura verdade  nacional neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Por  exemplo: ganhamos mais cultura política com a visão da figura da Erenice, a  burocrata felliniana, a “mãe coragem” com seus filhos lobistas, com o corpinho  barbudo do Tuminha (lembram?), com o “make-over” da clone Dilma (que ama a  ex-Erenice, seu braço direito há 15 anos), com o silêncio eufórico dos Sarneys,  do Renan, do Jucá… Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!
Ao menos, estamos mais alertas sobre a técnica do desgoverno corrupto que faz  pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos,  esgotos à flor da pele, tudo proclamado como plano de aceleração do crescimento  popular.
Nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como  uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades imundas, mas fecundas  como um adubo sagrado, belas como nossas matas, cachoeiras e flores.
Os canalhas são mais didáticos que os honestos. Temos assistido a um show de  verdades mentirosas no chorrilho de negaças, de cínicos sorrisos e lágrimas de  crocodilo. Como é educativo vermos as falsas ostentações de pureza para encobrir  a impudicícia, as mãos grandes nas cumbucas e os sombrios desejos das almas de  rapina. Que emocionante este sarapatel entre o público e o privado: os súbitos  aumentos de patrimônio, filhinhos ladrões, ditadura dos suplentes, cheques  podres, piscinas em forma de vaginas, despachos de galinhas mortas na  encruzilhada, o uísque caindo mal no Piantela, as flatulências fétidas no  Senado, as negaças diante da evidência de crime, os gemidos proclamando  “honradez” e “patriotismo”.
Talvez esta vergonha seja boa para nos despertar da letargia de 400 anos.  Através deste escracho, pode ser que entendamos a beleza do que poderíamos  ser!
Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda, que enquanto houver 20 mil  cargos de confiança no País, haverá canalhas, enquanto houver estatais com  caixa-preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá  canalhas. Com esse código penal, nunca haverá progresso.
Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas,  hospitais, estradas, sem saneamento, com o Lula brilhando na TV, xingando a  mídia e com todos os mensaleiros, sanguessugas e aloprados felizes em seus  empregos e dentro do ex-partido dos trabalhadores. E é espantoso que este óbvio  fenômeno político, caudilhista, subperonista, patrimonialista, aí, na cara da  gente, seja ignorado por quase toda a intelligentsia do País, que antes vivia  escrevendo manifestos abstratos e agora se cala diante deste perigo concreto que  nos ronda. No Brasil, a palavra “esquerda” ainda é o ópio dos intelectuais.
A única oposição que teremos é o da imprensa livre, que será o inimigo  principal dos soviéticos ascendentes. O Brasil está evoluindo em marcha à ré! Só  nos resta a praga: malditos sejais, ó mentirosos e embusteiros! Que a peste  negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas se transformem em  cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a  alma.
Os soviéticos que sobem já avisaram que revistas e jornais são o inimigo  deles.
Por isso, “si vis pacem, para bellum”, colegas jornalistas. Se quisermos a  paz, preparemo-nos para a guerra.
Fonte: O Estado de S.Paulo
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,lula-e-um-fenomeno-religioso,612779,0.htm

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