O segredo do demagogo é se fazer passar por tão estúpido quanto sua platéia, para que esta imagine ser tão esperta quanto ele.
Karl Kraus
Quando comecei a ouvir e a ler os comentários sobre o livro de José Nêumanne Pinto, editorialista do Jornal da Tarde e articulista do Estadão, eu inicialmente me recusei a acreditar. Nêumanne é um dos orgulhos da comunidade nordestina em São Paulo, homem inteligente e talentoso escritor. Sempre o tive na mais alta conta e até então era, para mim, um pilar da imprensa livre no Brasil.
Eu já havia percebido nos artigos recentes que costuma publicar no Estadão certa tolerância com o PT e a Dilma Rousseff. A isso atribuí a natural acomodação que um grande jornal por vezes faz com o poder do dia. Afinal, as gordas verbas não podem parar de fluir. Sem vender a alma de todo um jornal faz concessões aqui e ali. Mas a publicação do livro (O Que Sei de Lula, Editora TopBooks) foi um rebaixamento e um gesto subserviente sem igual. A resenha publicada no próprio jornal O Estado de São Paulo disse que o autor procura mostrar “o homem atrás do mito”. Na verdade, o livro cultiva ainda mais o mito.
Foi aberto imediatamente intenso debate na minha página no Facebook. A maior parte dos amigos que a integram são simpatizantes e leitores de longa data do jornalista, como eu mesmo sou. O próprio Nêumanne integra a relação dos meus amigos naquele sítio. O repúdio foi geral ao encômio feito a Lula no livro e Nêumanne se manifestou em tom defensivo/acusatório, alegando que na verdade fazia até denúncias, como a de Lula dizer-se admirador de Hitler, declaração que o ex-presidente deu a uma antiga edição da revista Playboy, fato sobejamente conhecido.
Nêumanne deu uma entrevista a um site da internet e a ouvi com atenção. Frases como “Lula é um gênio”, “Lula nunca foi de esquerda” e “Lula é um enorme talento” me levaram a concluir que José Nêmanne Pinto não escreveu mais do que uma peça de propaganda, convenientemente em momento bem próximo às eleições. Lula é precisamente o oposto de tudo que Nêumanne enxergou nele. O livro virou notícia em toda parte e tem sido objeto de intensos debates. As eventuais “denúncias” contra Lula, todas velhas notícias requentadas, parecem-me meras escoras para aumentar a credibilidade do escritor e o imunizar contra as críticas de puxa-saquismo e de propagandista da causa.
Mas foi exatamente isso que José Nêumanne fez: puxou o saco de Lula e fez propaganda da sua personalidade e do PT. Um gesto lamentável, um opróbrio para uma biografia que tinha sido até agora uma exaltação inerente. Uma obra maldita. José Nêumanne caminhou além da linha vermelha.
Eu, pensando comigo: em 1933, Thomas Mann exilou-se, foi o primeiro exilado, aquele que não compactuou com a Alemanha de Hitler, enquanto toda a gente, as “Zelites” inclusive, toda a imprensa, todos os ricos, o Exército, todos os alemães (menos alguns, os insubstituíveis, os restos de Israel, como Voegelin. Excluo os judeus por óbvio, como Strauss) aderiram de mala e cuia ao novo regime. Algo semelhante acontece entre nós, mas onde anda o nosso Thomas Mann, aquele que poderia dizer: onde eu estou está a cultura brasileira? Ninguém, ninguém. Ou tem? Acho que vi um: Olavo de Carvalho, que presentemente se encontra no exílio. Em 1933 era apenas um. Em 2011 é apenas um. A classe letrada, toda ela, pôs-se a serviço dos revolucionários. Tempos de grandes perigos
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